O mercado de jogos eletrônicos está em alta há alguns anos e deverá permanecer desta maneira, apesar da volatilidade do setor. Com um público vasto composto principalmente por jovens (16 a 34 anos), o mercado de games deverá movimentar bilhões de dólares no mundo nos próximos anos. Em 2022, a indústria global de jogos faturou US$ 196,8 bilhões e, segundo projeções da consultoria PwC, a expectativa é que o setor alcance um faturamento global de US$ 321 bilhões de dólares até 2026.

Neste cenário, encontra-se o Brasil, o maior consumidor de games da América Latina e o 13º maior mercado de games do mundo, de acordo com a Newzoo, empresa global de dados sobre games. Em 2021, a área de videogames no país movimentou US$ 2,3 bilhões e, segundo a Pesquisa Game Brasil 2022, aproximadamente 74,5% das pessoas no Brasil são adeptas de jogos eletrônicos.

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Diferentemente da indústria do cinema, cujo faturamento despencou desde o início da pandemia e que deverá retomar os níveis anteriores à crise sanitária apenas neste ano, a indústria de games ganhou impulso no período em que as medidas de isolamento obrigaram mais pessoas a ficarem dentro de casa. Em 2020, o faturamento do setor cresceu 21% e, em 2021, o crescimento foi de 9%.

Vale a pena investir em games?

Apesar do “boom” ocorrido durante a pandemia de Covid-19, quando as pessoas foram obrigadas a ficar em casa e por isso passaram a consumir mais jogos e entretenimento, o setor de games deverá sofrer um período de ajuste, mas continuará sendo um bom investimento, analisam especialistas entrevistados pela Istoé Dinheiro.

“De 2019 a 2020, tivemos um salto gigantesco nessa área e agora o momento é de estabilização, só que este novo marco já começa bem mais maduro e com dados reais. Acredito que, como em outras áreas, o momento seja de correção e essa é uma tendência normal e natural em qualquer setor. O ponto mais importante a se avaliar e pensar é que agora, mais do que nunca, o mundo é digital e que os hábitos dos nossos jovens, principalmente, são digitais e é nessa hora que entram em campo os jogos”, avalia Marlon Glaciano, especialista em finanças e investimentos.

Apesar da volatilidade que a indústria de games possui – o que de certa forma torna imprevisível que jogos ou consoles prevalecerão com o tempo -, ele acredita que o investimento no setor continua válido e com boas expectativas, principalmente pelo indicador de progresso futuro.

“Para se ter uma ideia, o setor de games, em 2022, faturou cerca de U$ 240 bilhões e a indústria de cinema faturou U$ 40 bilhões, ou seja, a de games, que é um segmento recente, já faturou cerca de dez vezes mais que a indústria de cinema, mais tradicional. Temos uma evolução e interação com a sociedade, porém a grande dificuldade desse setor é que ele, como todo mercado tecnológico, tende a evoluir bastante e assim fica difícil descobrir quais empresas prosperarão. No entanto, as oportunidades para a área são grandes”, defende Luciano Feres, economista e CFO da Somus Capital, escritório credenciado XP.

Para Francisco Tupy, doutor e mestre sobre aplicação de videogames na educação e comunicação pela ECA-USP, a necessidade de jogar seria algo inato ao ser humano:

“É algo pré-lógico, porque até animais irracionais têm noção do lúdico. O ser humano sempre vai jogar. O lúdico e a brincadeira fazem parte da expressão da identidade humana. Nós somos humanos porque jogamos, porque brincamos. Os jogos vão continuar existindo e o investimento neles busca sempre esse protagonismo, que pode permitir às empresas lucrarem e disputar uma liderança no mercado, seja porque é uma mídia sempre presente, seja pela necessidade do jogo em si, que nos motiva a jogar”.

Quais empresas têm se destacado?

“Temos uma empresa que está se destacando nesse setor, que é a NVIDIA, porque ela é uma grande produtora das GPUs (unidades de processamento gráfico) que são muito utilizadas para mineração de criptomoedas e nas aplicações de inteligência artificial. É por isso que muita gente a coloca como uma grande vencedora desse boom de IA, liderada pelo ChatGPT, sobre a ótica do hardware. Porém, existem também empresas que conseguem criar um verdadeiro ecossistema. É só observar o que acontece com Roblox, Fortnite, Minecraft, entre outros. Essas plataformas vão muito além de um jogo.  Elas são ambientes de convivência e esse é o grande diferencial”, diz Arthur Igreja, especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências.

“Muito graças aos seus bons resultados, levando em conta a taxa de juros e a alta relação de dúvidas sobre os setores, as ações que focam em games são apostas que fazem sentido, como a Blizzard (subsidiária da Activision Blizzard), Take-Two e demais empresas que desenvolvem games. Elas também são empresas que fazem sentido dado o alto grau de investimentos nesse setor”, diz Feres.

Sega comprará Angry Birds

A Sega anunciou nesta segunda-feira (17) acordo para comprar a produtora finlandesa Rovio, criadora do jogo “Angry Birds”, por € 706 milhões em uma iniciativa para reforçar seu portfólio de videogames para mobile. Após o anúncio, as ações da Rovio subiram 18,8%.

O Angry Birds foi o primeiro jogo para dispositivos móveis a atingir mais de um bilhão de downloads, segundo o Guinness World Records (“livro dos recordes”), e a Rovio alegou que a sua biblioteca combinada de jogos havia atingido cinco bilhões de downloads desde o ano passado.

Microsoft realiza maior aquisição do setor

No ano passado, a Microsoft anunciou a compra da Activision Blizzard, uma das mais bem-sucedidas empresas de games com cerca de 400 milhões de jogadores ativos mensais em 190 países, em um acordo de US$ 68,7 bilhões, que foi considerado a maior transação do setor. “Quando a transação for finalizada, a Microsoft será a terceira maior empresa de games do mundo em receita, atrás de Tencent e Sony”, disse em a nota a empresa.

No entanto, a aquisição depende ainda do aval de órgãos reguladores, como o CMA (Competition and Markets Authority), órgão regulador do Reino Unido, e a comissão antitruste da União Europeia, a qual deverá decidir no próximo dia 25 se aprova ou não que a Microsoft conclua a compra. Porém, em março deste ano, após adiar duas vezes sua a decisão, a CMA se manifestou dizendo que não vê nenhum cenário onde a Sony, responsável pela marca PlayStation, possa ser prejudicada pela aquisição.

“Tendo considerado as evidências adicionais fornecidas, agora concluímos provisoriamente que a fusão não resultará em uma diminuição substancial da concorrência nos serviços de jogos de console, porque o custo para a Microsoft de reter Call of Duty da PlayStation superaria quaisquer ganhos de tomar tal ação”, afirmou Martin Coleman, presidente do painel independente que lidera as investigações da CMA.

A decisão definitiva deverá ocorrer até o fim de abril. No entanto, embora a aquisição ainda não tenha sido aprovada, a Microsoft já está lançando em Londres materiais promocionais destacando os resultados que a fusão poderá levar aos consumidores.