Na última sexta-feira (28) o cantor norte-americano Neil Young deu um ultimato à plataforma de streaming musical Spotify para que eles retirassem conteúdo falso sobre covid-19, incluído no podcast de Joe Rogan. Do contrário, Young tiraria as suas músicas da plataforma. 

A queda de braço, inicialmente, foi vencida por Rogan, dono de um dos podcasts mais famosos do mundo, e as músicas de Young foram retiradas do catálogo do serviço. Dias depois, a cantora Joni Mitchell também não pediu que sua obra ficasse indisponível no serviço.  

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A empresa sueca não aceitou a briga e manteve o podcast. Mas obteve uma resposta dura do mercado: em apenas três dias o Spotify perdeu US$ 2 bilhões em valor de mercado. 

Exclusividade no podcast de Rogan

O Joe Rogan Experience é um podcast apresentado pelo ex-apresentador do Ultimate Fight Championship, o UFC, e trouxe inovações ao formato. Todos os podcasts mais longos e com um ar mais despojado que tomou conta das redes nos últimos tempos foram baseados no programa de Rogan.

O Spotify tem um contrato de exclusividade com o apresentador desde 2020 que, segundo informação da imprensa norte-americana, está na casa dos US$ 100 milhões. Ele também possui cerca de 11 milhões de ouvintes por episódio.   

O retorno de audiência e financeiro de Rogan também cobra um preço alto. Ele entrevista vários especialistas que divulgam informações imprecisas sobre a pandemia de covid-19. Um deles foi Robert Malone, que afirmou que os hospitais dos EUA estão sendo financeiramente incentivados a falsificar as mortalidades pela doença e comparou as políticas de saúde pública do país ao holocausto. O episódio segue no ar (pelo menos estava lá nesta quarta-feira, 2). 

Com a saída de Young e Mitchell, a plataforma afirmou que tirou do ar mais de 20 mil episódios de podcasts que estavam espalhando desinformação sobre a pandemia e que vai colocar links em todos os podcasts que mencionarem a Covid, direcionando os usuários para informações factuais e cientificamente verificadas, anunciou Daniel Ek, presidente e fundador do serviço, em comunicado

Liberdade de expressão

O bilionário Elon Musk provocou o compositor canadense e seu posicionamento em seu twitter na última segunda-feira (31). 

Ele interagiu com um tuite do cientista da computação Lex Fridman, que comemorava o posicionamento do Spotify por manter o episódio no ar. “A liberdade vence”, disse Fridman. Musk respondeu com uma foto de Young com a frase: Se você não pode censurar o cara que eu não gosto, eu não vou deixar você ouvir “Rockin’ in the Free World”, se referindo a um dos maiores sucessos do cantor.

Política de outras redes sociais

O Spotify foi muito criticado por ter uma política ambígua sobre desinformação. Redes como o Twitter e o Facebook contam com ferramentas de denúncias sobre informações falsas sobre covid-19. 

O Youtube também apagou vários vídeos com conteúdo antivacina, inclusive 15 do canal oficial do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL). 

Após a invasão do Capitólio no começo de 2021, o twitter baniu o ex-presidente Donald Trump permanentemente da plataforma. O Facebook suspendeu a conta de Trump até 2023. 

Plataforma é “mal necessário” para muitos artistas

Neil Young e Joni Mitchell são artistas consagrados no mundo inteiro e estar ou não no Spotify pode fazer pouca diferença. Mas para artistas menores a plataforma ainda é extremamente necessária para a divulgação de suas obras, pois ela conta com mais de 381 milhões de usuários e representa 30% do mercado de streaming musical. 

 “Deixar o Spotify seria eliminar o enorme potencial para que as pessoas me encontrem”, afirmou à AFP o músico e apresentador do podcast Third Story Leo Sidran.

Uma demanda antiga dos artistas é sobre o repasse de dinheiro do Spotify a cada exibição de uma música. De acordo com a imprensa dos EUA, o serviço paga de 3 a 5 dólares a cada mil execuções.