Divulgada na manhã da segunda-feira (5), a edição mais recente do Relatório Focus, do Banco Central (BC), confirmou as expectativas do mercado e registrou a décima redução consecutiva das estimativas de inflação para 2022. No fim do primeiro semestre, a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperada para este ano era de 8,89%. Na segunda-feira, essa estimativa havia caído para 6,61%, uma baixa de quase 2,3 pontos percentuais. E é provável que as próximas edições do Focus tragam novos cortes nessa estimativa.

A justificativa é o comportamento do próprio índice. O IPCA de julho registrou uma deflação (queda de preços) de 0,38%. E o IPCA de agosto, cuja divulgação está agendada para a sexta-feira (9) deverá ser novamente negativo. As projeções dos especialistas oscilam entre quedas de 0,3% até 0,8%. Como a alta acumulada nos 12 meses até julho é de 10,04%, o resultado de agosto deverá fazer o IPCA acumulado em 12 meses retornar à casa de um dígito.

Juros renovam mínimas e acentuam queda após corte de combustíveis

Inflação em baixa sempre é notícia boa, ainda mais no Brasil. Ela justifica um abrandamento da política monetária, com uma redução dos juros – que começaram a subir no início de 2021, muito antes de os demais países relevantes começaram a elevar suas próprias taxas. Porém, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, descartou essa hipótese em um evento na noite da segunda-feira. Campos Neto disse que, ainda que deva haver mais algumas indicações de deflação, a batalha contra a inflação não está ganha.

“Como começamos o processo de aperto monetário mais cedo e de maneira rápida, existe a percepção de que estamos no fim do processo e um dos únicos países em que o mercado espera cortes de juros”, disse Campos Neto. Porém, ele BC logo tratou de descartar essa hipótese de uma maneira mais veemente do que os banqueiros centrais costumam fazer. “A gente não pensa em corte de juros no momento. Pensamos em finalizar o trabalho e isso significa a convergência da inflação. O Banco Central entende que ainda há um elemento de preocupação grande com a inflação no Brasil”, disse.

Excesso de zelo? Não, prudência. A desaceleração de diversos índices de inflação, além do IPCA, decorreu de uma baixa dos preços dos combustíveis provocada tanto pela diminuição dos impostos quanto por baixas de preços por parte da Petrobras, aproveitando-se de um alívio no mercado internacional do petróleo. Porém, combustíveis são apenas um item, ainda que muito importante, em uma cesta de produtos e serviços que forma o IPCA. E alimentos, moradia e serviços em geral continuam com seus preços pressionados para além dos combustíveis.

E, para ajudar a atrapalhar, os preços do petróleo voltaram a subir no mercado internacional no início da semana. O anúncio por parte da Rússia de interrupção no fornecimento de gás levou o barril do petróleo do tipo Brent, referência para a Petrobras, a US$ 96,60 na segunda-feira. Nesta terça-feira os preços recuaram para US$ 93,20, mas mesmo assim a trajetória descendente que permitia prever um barril a US$ 80,00 antes do fim deste ano parece ter sido interrompida. Ou seja, o principal vetor de baixa da inflação pode estar comprometido, embora seja preciso esperar mais dados para ter essa certeza. Tudo o mais constante, é pouco provável que os juros comecem a cair tão cedo.