Entre os olhares desconfiados e os que enxergam o futuro, a carne cultivada tem ganhado espaço como mais uma alternativa de alimento e chamado a atenção da indústria de proteína animal. Produzida em laboratório a partir de células de sua versão original, essa nova opção dispenda o abate de bovinos, aves, suínos ou qualquer outro bicho e, segundo especialistas e representantes das empresas que estão apostando no negócio, pode reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o uso de terras e de água. Ou seja, cai no gosto de consumidores preocupados com a preservação ambiental.

São necessários grandes investimentos em pesquisa e infraestrutura para que a carne cultivada seja produzida em grande escala e chegue ao mercado a um preço acessível. É isso o que está ocorrendo. De acordo com o Good Food Institute (GFI), só no ano passado 70 empresas e startups espalhadas pelo mundo injetaram US$ 1,4 bilhão no segmento. A América Latina tem se destacado e pode se tornar protagonista nesse campo nos próximos anos segundo a gerente de Engajamento Corporativo do GFI Brasil, Raquel Casseli. “Grandes players, principalmente no Brasil, importaram tecnologia e construíram grandes laboratórios”, afirmou.

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A BRF espera oferecer aos consumidores a carne produzida em laboratório em 2024, por meio de uma parceria com a startup israelense Aleph Farms, na qual investiu US$ 2,5 milhões. A JBS vai injetar R$ 325 milhões nos próximos quatro anos em seu Biotech Innovation Center, que está recrutando cientistas. Outras novidades são a startup Ambi Real Food, que promete ser a primeira empresa a produzir a carne cultivada com tecnologia totalmente nacional; a Sustinieri Pisces, voltada para o segmento de peixes; e a Cellva, que acaba de entrar no mercado para desenvolver gordura de porco cultivada.

A carne de laboratório é vista como complementar à forma como a proteína animal é produzida atualmente, e não como substituta, até por se tratar um segmento muito novo e pelas dimensões de cada atividade. Mas tudo indica que pode se tornar uma alternativa interessante para ajudar a abastecer a crescente população mundial. A ONU afirma que no dia 15 de novembro deste ano seremos 8 bilhões de pessoas. E 9,7 bilhões em 2050. Serão muitas novas bocas para alimentar.