A fabricante alemã de carros de luxo Porsche teve uma excelente estreia na Bolsa de Valores de Frankfurt nesta quinta-feira (29), numa das maiores operações na praça, apesar do contexto econômico complicado.

A ação atingiu 84 euros, acima do preço de IPO fixado em 82,50 euros, durante sua primeira cotação às 07h15 GMT (4h15 de Brasília), valorizando a fabricante do Porsche 911 em mais de 76 bilhões de euros. Às 6h30, o preço subiu para 86 euros.

Ações da Porsche aceleram após IPO histórico de US$72 bi

“Um grande sonho está se tornando realidade para a Porsche”, declarou Oliver Blume, chefe da Porsche e da Volkswagen, controladora do grupo de carros esportivos, antes de acenar freneticamente o sino que marca o início das negociações para o título de código predestinado “P911”.

Em frente à Bolsa, uma fileira de carros de corrida estava estacionada, incluindo o lendário 917 número 22 que triunfou nas 24 Horas de Le Mans em 1971: “A Porsche, uma das fabricantes de carros esportivos mais bem sucedidas do mundo, está entrando numa nova era com maior flexibilidade empresarial”, acrescentou o CEO.

O volume do IPO o torna o segundo maior na Alemanha depois da Deutsche Telekom em 1996 e o maior na Europa desde 2011 com a gigante suíça de commodities Glencore.

Uma entrada da Porsche no Dax40, reunindo a nata dos valores alemães, deverá acontecer já na próxima revisão do índice, segundo diversas fontes.

A Volkswagen, segunda maior fabricante do mundo, colocou apenas 12,5% do capital de sua pepita no mercado de ações, mas essa listagem trará cerca de 9,4 bilhões de euros para financiar a transição para carros elétricos e autônomos.

A Porsche tem assim uma capitalização maior na linha de partida do que outros gigantes alemães como BMW (47 bilhões de euros) e Mercedes-Benz (58 bilhões de euros), que vendem muito mais carros do que a empresa de Zuffenhausen, perto de Stuttgart (sul).

A operação é ainda mais excepcional porque os IPOs caíram acentuadamente no terceiro trimestre em todo o mundo, em 56% em volume, em um cenário de inflação, juros crescentes e a guerra russa na Ucrânia, observam analistas da EY.

E em termos de capitalização de mercado, a Porsche é mesmo “a maior empresa a abrir o capital na Europa neste século”, sublinha o escritório.

A Volkswagen garantiu o apoio dos principais acionistas da Porsche, como os fundos de investimento público do Catar e Abu Dhabi, o fundo soberano norueguês e o gestor de ativos americano T. Rowe Price.

Para atraí-los, a Porsche elevou sua meta de margem operacional para um intervalo entre 17 e 18% e o faturamento deve crescer de 11 a 14% em relação a 2021, seguindo a excelente forma do setor de carros de luxo.

Com uma clientela abastada mais sensível ao meio ambiente, a marca está migrando para o elétrico: depois do esportivo Taycan nascido em 2019 e do qual quase 20.000 exemplares foram vendidos de janeiro a junho, espera-se um novo SUV elétrico Macan em 2024 antes do lançamento de outro SUV em meados da década.

Antes do IPO, a Porsche pertencia 100% ao grupo Volkswagen, ele próprio controlado pela holding Porsche SE, tesouro das famílias Porsche e Piëch que vão reforçar a sua base através deste IPO.

Os investidores só conseguiram adquirir ações “preferenciais” – sem direito a voto -, enquanto a Volkswagen vende 25% do capital mais uma ação para a Porsche SE, que terá uma minoria de bloqueio na fabricante de carros esportivos.

Essa operação gerou críticas à estrutura de governança do grupo.

Mas “o sucesso de hoje mostra que a emissão de ações sem direito a voto não foi um problema para os acionistas da Porsche”, disse Arno Antlitz, diretor financeiro da Porsche, à AFP.

A fabricante com doze marcas receberá um lucro total de cerca de 19 bilhões de euros, metade dos quais serão usados para financiar fábricas de células de bateria e software de bordo.