04/08/2001 - 7:00
Rebimboca da parafuseta? Nunca mais. Está surgindo no mercado um novo tipo de trabalhadora, disposta a colocar literalmente a mão na graxa, trocar o filtro de óleo e resolver problemas complexos de mecânica e de circuitos elétricos dos carros. A tendência foi identificada pela Citroën, que não pensou duas vezes e abriu no Brasil a primeira revenda onde só trabalham mulheres, a Etoile. É a única do gênero em todo o mundo. ?Tenho 33 funcionárias que resolvem qualquer problema no automóvel?, afirma Vera Siqueira, diretora da concessionária, localizada na zona sul de São Paulo. O time não decepciona. ?Elas têm mais paciência do que os homens para explicar em detalhes os problemas dos veículos?, avalia Vera.
O professor Riva Dalveio, da rede de escolas profissionalizantes Argos, confirma o avanço das mulheres. ?Ele vem ocorrendo aos poucos. Na minha unidade tenho três alunas de automecânica para um total de 88 estudantes homens. Mas elas se destacam pela dedicação nos estudos?, diz. O fenômeno, além de aumentar o leque de opções de emprego para mulheres numa época em que faltam vagas, mostra uma preocupação das trabalhadoras em garantir uma profissão especializada e melhor remunerada. O salário de uma mecânica da Etoile varia de R$ 500 a R$ 1 mil. Algumas das atuais funcionárias da Citroën ganhavam R$ 150 em pequenas oficinas.
Evidentemente, o machismo está presente no dia-a-dia. Da chefe de oficina Nivalda Ferreira à balconista de peças Jane Canuto, passando pela mecânica Juliana Ribeiro (uma garota de apenas 17 anos), todas têm histórias para contar sobre o preconceito por parte de clientes. ?Um sujeito uma vez pediu para eu trocar um cano de suspensão. Peguei o modelo correto, mas ele insistia que era muito pequeno. Só se convenceu depois de comparar as duas peças?, explica Jane. Apaixonada por carros desde pequena, ela resistiu às pressões da mãe para que estudasse nutrição e concluiu o curso de mecânica em quatro anos. A Etoile pretende investir mais no conceito: neste mês, abrirá inscrições para um curso de mecânica destinado a mulheres. Jece Valadão teria um enfarte.
