O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, abordam nesta sexta-feira (23) em Paris a ratificação do acordo UE-Mercosul. O tema provoca tensão, devido à pressão do setor agropecuário da França contra o pacto e a irritação do governo brasileiro com as novas exigências ambientais europeias.

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Os dois chefes de Estado terão um almoço de trabalho no Palácio de Eliseu, após o fim da reunião de cúpula em Paris que pretende estabelecer as bases de uma nova arquitetura financeira global, centrada na luta contra a mudança climática.

A conversa acontece em um momento de tensão, depois que o setor agropecuário e a Câmara dos Deputados da França se pronunciaram contra uma aliança que consideram uma ameaça.

O acordo UE-Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) foi anunciado em 2019, após duas décadas de negociações. O processo de ratificação foi, no entanto, bloqueado e se tornou ainda mais complicado desde março, quando vazaram várias demandas regulatórias da UE, relacionadas à proteção do meio ambiente e às responsabilidades de cada parte.

Em um fórum de líderes antes do fim da reunião de cúpula de Paris, Lula aproveitou a oportunidade para elevar o tom diante de Macron, a quem declarou considerar o instrumento adicional da UE como uma “ameaça”.

“Não é possível ter uma associação estratégica e ter uma carta adicional, ameaçando um parceiro estratégico”, disse Lula para uma plateia que incluía o presidente francês e o chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, entre outros.

O presidente brasileiro disse ainda que o documento adicional “não permite um acordo” no momento.

Na quinta-feira, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, declarou à imprensa que o documento adicional dá a “impressão” de que Bruxelas quer “adiar a decisão” de concluir o processo de ratificação entre o bloco e os membros do Mercosul.

Os quatro países sul-americanos pretendem responder na próxima semana à proposta da UE.

Na quinta-feira (22), sindicatos e associações agrícolas francesas pediram a Macron que apresente um “não firme e definitivo” ao acordo comercial com o Mercosul na forma atual.

Em fevereiro, o presidente francês declarou que não apoiaria o acordo, caso os países do Mercosul não respeitassem o Acordo de Paris de 2015 sobre o clima e as regras ambientais e sanitárias europeias.