Prodígio e excêntrico, esses costumam ser os adjetivos mais usados para descrever o inglês Stephen Wolfram, de 50 anos. Definido como ?uma espécie de Bob Dylan do mundo da ciência?, pela revista Wired, Wolfram quer agora reinventar as buscas na internet com seu site de buscas Wolfram|Alpha. Mas, acredite, ele não quer matar o Google. Uma ambição a altura do seu currículo. Aos 15 anos, ela publicou seu primeiro estudo sobre física de partículas. Aos 20, completou seu doutorado na área e tornou-se o mais jovem ganhador da ?bolsa para gênios? da Fundação MacArthur. Mais tarde foi pioneiro no uso de computadores em pesquisas matemáticas. Aos 27, seus estudos dariam como fruto a criação do software Mathematica, capaz de solucionar qualquer tipo de problema matemático, além de fazer simulações. O programa fez sua fortuna.

Milionário, se casou teve filhos e passou uma década recluso, passando as noites em claro. Ele lia artigos acadêmicos, fazia simulações em computadores, recorria a amigos especialistas nas mais diversas áreas da ciência e escrevia – muito. ?Ele me ligava às 2hs da manhã?, disse, à época, o neurocientista Terrence Sejnowski. ?Pela manhã, já sabia mais do que eu?. Enquanto o mundo dormia, cunhava ?Um Novo Tipo de Ciência?, livro lançado em 2002, com 1.200 páginas, em que conclui que a natureza usa regras simples, semelhantes a poucas linhas de programação, para gerar a complexidade que vemos ao nosso redor. Nem precisa dizer que muita gente ficou sem entender nada.

No entanto, como aqueles que têm a plena convicção de que estão à frente do seu tempo, ele não se abateu. E no ano passado revelou o WolframlAlpha, o seu ?mais ambicioso e complexo projeto?. Em uma rara entrevista, Wolfram falou sobre seus planos, explicou o motivo de ter usado seu próprio nome no site, sua fixação por novos gadgets e até sobre seus poucos arrependimentos, além de lições de liderança.

DINHEIRO – Um ano depois do lançamento do Wolfram|Alpha, qual o balanço que o senhor faz do site?
WOLFRAM –
Tudo está indo muito bem. Muitas pessoas estão usando o Wolfram|Alpha sistematicamente, para fazer coisas que são importantes para elas. Além do mais, aprendemos algo muito importante com esse projeto: a ideia do Wolfram|Alpha é possível. O Wolfram|Alpha é um projeto de longo prazo. Acredito que tivemos um ótimo início.

DINHEIRO – Quais são os planos do senhor para o Wolfram|Alpha neste ano?
WOLFRAM –
Vejo o nosso primeiro ano como um longo período de testes. E acho que estamos prontos para aumentar o âmbito do Wolfram|Alpha consideravelmente, e torná-lo uma ferramenta onipresente. Estamos trabalhando em vários projetos para desenvolver parcerias e mecanismos que vão suportar essa expansão. Além disso, estamos colocando um grande esforço no desenvolvimento de novas tecnologias, construídas a partir do conceito do Wolfram|Alpha, mas que o desdobram em direções diferentes. Desde o lançamento, há um ano, nós praticamente dobramos a quantidade de conteúdo existente no Wolfram|Alpha, e a ideia é fazer ainda mais do que isso para o próximo ano.

DINHEIRO – O senhor planeja competir com os buscadores tradicionais, como o Google?
WOLFRAM –
Nós fazemos algo diferente do que fazem os sites de busca, e por essa razão faz sentido para nós buscar parcerias com eles, como a que temos com o Bing. Sites de busca funcionam com o princípio de pesquisar palavras que pessoas escreveram em sites e publicaram na web. Já o Wolfram|Alpha funciona com o princípio de processamento de dados, computando novas respostas para perguntas específicas. Essas respostas são baseadas no conhecimento inserido no Wolfram|Alpha. Uma curiosidade é que a maior parte das pesquisas feitas no Wolfram|Alpha, quando realizadas nos sites de busca comuns, não encontram nenhum resultado. Portanto, são perguntas que ninguém escreveu anteriormente, mas cujas respostas podem ser computadas pelo Wolfram|Alpha.

DINHEIRO – Todo o burburinho em torno do lançamento do Wolfram|Alpha em maio do ano passado, foi bom ou ruim para o site?
WOLFRAM –
Foi definitivamente algo positivo, nós só fizemos o lançamento porque desenvolvemos tudo que podíamos sem ter usuários reais. O ?burburinho? trouxe muitos usuários ao site, o que nos proporcionou uma aquisição de dados fantástica. Os usuários nos mostraram que tipos de perguntas são feitas, e também nos ensinou muito a respeito das construções de frase que as pessoas usam quando interagem com o Wolfram|Alpha. Por outro lado, eu sou um perfeccionista, e gostaria de ter resolvido todos os problemas antes de deixar um grande número de pessoas usar o site. Porém, para chegar a tal nível de perfeição poderia levar uma década, ou talvez nunca fosse possível sem estudar o uso real.

DINHEIRO – Na sua opinião, qual a maior fraqueza do Wolfram|Alpha?
WOLFRAM –
Não acho que tenha uma única grande fraqueza, mas temos uma lista com dezenas de milhares de possíveis melhoras para o site, todas fraquezas, de alguma maneira. Nós temos muito trabalho pela frente para implementar todas essas melhoras.

DINHEIRO – O Wolfram|Alpha não tem publicidade, fazer dinheiro com o site é algo com que o senhor não se preocupa?
WOLFRAM –
Claro que isso me preocupa! Eu gastei muito dinheiro desenvolvendo o Wolfram|Alpha, além disso temos aproximadamente duzentas pessoas trabalhando no seu desenvolvimento atualmente. Por sorte temos ótimas oportunidades para desenvolver negócios a partir do Wolfram|Alpha. Além disso, mais cedo ou mais tarde, teremos alguns anúncios no site também.

DINHEIRO – Por que o senhor decidiu dar o seu próprio nome ao site?
WOLFRAM –
Vejo Wolfram mais como o nome da empresa do que meu próprio nome. Aliás, nós achamos importante criar uma conexão entre o Wolfram|Alpha e o que as nossas outras empresas fazem. Além do mais, eu queria um nome ?sem significado?, pois o Wolfram|Alpha está fazendo algo novo, que as pessoas nunca viram antes, e não existe uma palavra que possa descrever o que é feito. Eu não queria dar um nome que tentasse descrever o que ele faz, mas acabasse dando a ideia errada às pessoas. Quando eu batizei o Mathematica, há 23 anos, foi um nome formidável para o nosso produto, mas agora ele pode ser algo frustrante. Isso porque as pessoas presumem que o Mathematica só sirva para resolver problemas tradicionais de matemática, quando isso é apenas uma fração ínfima do que o software realmente faz. Eu queria dar ao Wolfram|Alpha um nome que cresça junto com o produto. Um nome que eu gostei bastante foi Wolfram Research para a nossa empresa, pois o nome permite que façamos o que quisermos. Estou muito feliz por não ter dado um nome que limite nossas operações. Além disso, eu estou orgulhoso do que a empresa tem feito, portanto não me sinto mal por tê-la batizado com meu nome.

DINHEIRO – Qual a mais importante lição de liderança que o senhor já apreendeu?
WOLFRAM –
Acho que não posso explicitar uma única lição. Mas algo que eu levo mais a sério a cada dia é a ideia de que as organizações que eu fundei são feitas de pessoas muito talentosas, que eu tento encaixar nas melhores áreas de trabalho possíveis. Considerando a nossa estratégia, é fascinante juntar pessoas com tantas habilidades diferentes e, finalmente, colocá-las juntas para trabalhar da melhor maneira possível. Do meu ponto de vista, quanto mais eu entender os pontos fortes e fracos das pessoas, mais eu terei sucesso nessa tarefa.

DINHEIRO – Se o senhor pudesse voltar no tempo e fazer algo diferente, o que seria?
WOLFRAM –
Não há muito que eu queira fazer diferente, fico feliz em dizer. Na minha vida eu realizei três grandes projetos: o software Mathematica, o livro ?A New Kind of Science? (Um Novo Tipo de Ciência) e o Wolfram|Alpha. Tenho que dizer que estou bem feliz com todos eles. Eu gostaria de ter escrito meu livro em menos de uma década, mas eu não sei como seria possível realizar tal feito. Eu também comecei alguns projetos que não eram ideias muito boas para mim, mas eu parei de desenvolvê-los razoavelmente cedo, não gastando muito tempo com eles. Além do mais, tive bastante sorte de construir uma empresa sólida e bem-sucedida. Porém, atualmente, acho que poderíamos ter crescido mais se eu tivesse trazido mais especialistas em administração mais cedo na história da empresa. A nossa empresa tende a ter uma cultura que se baseia principalmente em fazer os melhores produtos possíveis. Se eu fosse fazer tudo de novo, eu provavelmente iria gastar mais energia nas áreas administrativas mais cedo.

DINHEIRO – Qual a importância da tecnologia na sua vida pessoal e profissional? O senhor gosta de gadgets?
WOLFRAM –
Sim, às vezes acho que adquiro todo tipo de gadgets assim que eles são lançados (e, com bastante frequência, até antes disso). Nos últimos 20 anos eu tenho sido um CEO trabalhando remotamente, pois eu moro a 1.600 quilômetros da sede da empresa e trabalho em casa. O que significa que eu uso tecnologia constantemente para interagir com os funcionários da empresa. Com o passar dos anos eu adquiri uma grande quantidade de tecnologia para o meu uso pessoal, na tentativa de fazer minha vida o mais eficiente possível.

DINHEIRO – O senhor enxerga alguma relação entre o seu livro “A New Kind of Science” e o Wolfram Alpha?
WOLFRAM
– Com certeza, o paradigma que eu desenvolvi no meu livro me fez perceber que a realização do Wolfram|Alpha seria possível. Além do mais, para operar o Wolfram|Alpha usamos várias ideias vindas do ?New kind of science?. Um dos conceitos que usamos com bastante frequência é o de ?descoberta de algoritmos?, que consiste em descobrir programas simples no universo computacional para realizar as tarefas que precisamos, como por exemplo o processamento lingüístico.

DINHEIRO – Na sua opinião, qual a importância do Wolfram Alpha na evolução da internet?
WOLFRAM –
Mais cedo ou mais tarde, as pessoas usarão o conceito de conhecimento computável corriqueiramente, como já é feito com os sites de busca. As pessoas irão usar a internet para buscar respostas específicas para perguntas específicas, não somente links para textos existentes. Vai ser fascinante ver o que pode ser construído baseado nessa tecnologia.