09/02/2023 - 15:12
Em Londres, Paris e Bruxelas, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pressiona seus aliados para que lhe entreguem caças para enfrentar a Rússia, um pedido difícil de satisfazer na rapidez desejada por Kiev.
“Quanto mais cedo a Ucrânia tiver armamento pesado de longo alcance, quanto mais cedo nosso pilotos tiverem aviões, mais rápido terminará esta agressão russa e poderemos voltar à paz na Europa”, declarou Zelensky, na quarta-feira (8), durante visita ao Palácio do Eliseu, em Paris.
O mesmo desejo já havia sido enunciado em Londres e, nesta quinta-feira (9), o pedido foi reforçado no Parlamento Europeu.
Para Kiev, o tempo urge, pois “as forças russas retomaram a iniciativa e começaram sua próxima grande ofensiva na região de Lugansk”, no leste do país, de acordo com o Instituto americano de Estudos da Guerra (ISW, na sigla em inglês).
Até agora, governos ocidentais têm se mostrado hesitantes em entregar caças para a Ucrânia, temendo provocar uma escalada com Moscou. Aos poucos, porém, essas reservas foram caindo, e os aliados de Kiev acabaram concordando, em janeiro, com o fornecimento de tanques pesados.
Por enquanto, Washington descartou enviar à Ucrânia caças F-16 da fabricante Lockheed Martin, um dos modelos mais usados no mundo, inclusive por muitos países europeus, como a Holanda. Seu governo não descarta que possa ceder alguns de seus F-16, os quais planeja substituir por unidades F-35.
Outros parceiros de Kiev parecem estar mudando de posição.
Parece ser o caso, por exemplo, do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. Depois de se recusar, em janeiro, a fornecer Eurofighter Typhoon, ou F-35, ele prometeu recentemente que seu país treinará pilotos de caça ucranianos, “segundo os padrões da Otan”. Além disso, pediu ao Exército que estude possíveis entregas de aeronaves, embora tenha advertido que essa poderia ser apenas uma opção de “longo prazo”.
– Bases aéreas rudimentares –
O presidente francês, Emmanuel Macron, já declarou que “nada está descartado”.
A França tem 13 Mirage 2000-C há meses fora de serviço, mas que “ainda têm algo de potencial”, destacou um membro do círculo do chefe do Estado-Maior da Força Aérea francesa.
Essas aeronaves precisariam, contudo, serem adaptadas e seria necessário dedicar vários meses à formação de pilotos ucranianos, cuja frota se compõe, exclusivamente, de Migs soviéticos.
Em geral, o treinamento no manuseio de aviões de combate modernos dura seis meses, no caso de pilotos experientes, um período que poderia ser reduzido, no máximo, pela metade.
Segundo especialistas, os caças ocidentais permitiriam desferir duros golpes às tropas russas e dissuadir os bombardeiros russos de atacar o território ucraniano. Mas, sozinhos, não constituiriam uma solução militar milagrosa. Além disso, nem todos os modelos poderiam ser usados na Ucrânia.
“O Typhoon e o F-16 não estão adaptados para as bases aéreas rudimentares que os ucranianos usam para evitar atrair bombardeios de mísseis russos”, explicou o especialista militar Justin Bronk, do centro de pesquisa britânico RUSI.
Doar Typhoons seria “quase puramente simbólico e não serviria aos interesses da Força Aérea Ucraniana”, tuitou Bronk.
“Mas, pode valer a pena se, politicamente, permitir que a Suécia contribua com (aviões) Gripen, e outros países doem F-18”, dois modelos que poderiam, de fato, operar nesse tipo de base.
Moscou continua tentando desencorajar os ocidentais de doarem esse tipo de aeronave.
“Em tal cenário, a colheita sangrenta do próximo ciclo de escalada estará em suas consciências, assim como as consequências militares e políticas para o continente europeu e o mundo inteiro”, advertiu, ontem, a embaixada russa em Londres.