03/08/2011 - 21:00
Como estancar a desvalorização abrupta do dólar, que agoniza em praça pública, em meio à maior crise financeira dos EUA em tempos recentes? É com esse problemão que se debatem economias em todo o mundo. Não se trata de um desafio exclusivamente brasileiro como parecem querer supor aqueles que reclamam de uma pseudoliberalidade do governo para com o assunto. Na semana passada, o ministro Guido Mantega anunciou novas medidas para tentar estancar parte da sangria da moeda americana em relação ao real. São ajustes que atacam a questão especialmente no mercado futuro, ambiente no qual reside o maior foco de especulação do câmbio.
De uma maneira ou de outra, foi uma resposta aos apelos. Mas certamente não será o suficiente. O dólar cai, e continuará caindo, diante do real por motivos concretos. Na terça-feira 26, o Banco Central informou que o investimento externo no Brasil bateu recorde. Somente no primeiro semestre deste ano entraram mais de US$ 35 bilhões aqui – a maior marca alcançada desde o início da série histórica em 1947. O relatório de uma agência vinculada à ONU apontou que o Brasil se situou como o quinto país que mais recebeu capital estrangeiro em 2010.
E as razões por trás disso são óbvias. Qualquer empresa ou investidor minimamente informado sobre as chances de melhor retorno com a aplicação do seu dinheiro – seja em projetos industriais, seja no mercado financeiro – optaria pelo Brasil no quadro atual. Todos os países europeus parecem contaminados por uma crise sem precedentes. Os EUA exibem um colapso de suas contas públicas que não se via há décadas. E mesmo entre os emergentes, incluindo China e Índia, o Brasil leva vantagem. O tigre asiático continua a viver sob o tacape de uma legislação caduca, com sérias restrições e ameaças ao capital que vem de fora. Na Índia, as apostas parecem limitadas ao setor de tecnologia.
E, enquanto isso, o mercado brasileiro traz uma classe emergente de quase 30 milhões de novos consumidores, registra crescimento no número de empregos – 1,5 milhão a mais nos últimos seis meses –, estabilidade e um parque industrial trabalhando no limite da capacidade instalada, pronto para receber projetos. Sem contar a taxa de juros altamente convidativa. Falando sério, quem friamente desistiria de trazer seus dólares para cá nessas condições e nessa conjuntura?