14/11/2013 - 6:30
Os acionistas de empresas do setor elétrico tinham vários motivos para derramar lágrimas no início de 2013. As tradicionais ?ações de viúva?, assim chamadas por oferecerem dividendos certos e poucos riscos para os seus tomadores, transformaram-se, subitamente, nos papéis mais voláteis ? e, portanto, inseguros ? do pregão. Isso ocorreu por dois motivos. O primeiro foi climático: as chuvas haviam sido fracas na maior parte das regiões do País, o que reduziu o nível de água nos reservatórios e ampliou a possibilidade de apagões. O segundo foi político.
Fortemente regulamentado, o setor sofreu com a mudança nas regras de concessão das empresas de energia elétrica, anunciada pela presidenta Dilma Rousseff, em setembro de 2012, e formalizada em janeiro deste ano. Visando reduzir o custo da eletricidade e aumentar a competitividade da economia, o governo federal ampliou o prazo em que as empresas geradoras de energia poderiam explorar os reservatórios ? que são do Estado. Essa segurança, porém, teve um preço. Em contrapartida, Brasília exigiu que as empresas geradoras concedessem um desconto médio de 18% na fatura da energia vendida às distribuidoras.
A perspectiva de uma redução estrutural nos resultados das companhias fez as cotações desabarem. Entre setembro de 2012 e janeiro de 2013, quando o percentual de redução do faturamento se tornou conhecido, o índice de ações de energia elétrica caiu 19,2%, contra uma valorização de 4,8% do Ibovespa. Essa queda deixou inconsolável uma legião de viúvas e provocou reclamações estridentes de empresários do setor, que denunciavam uma suposta quebra de contratos praticada pelo governo. Num primeiro momento, os resultados das companhias foram afetados. No primeiro trimestre deste ano, empresas até então lucrativas tiveram seus balanços manchados de vermelho.
No entanto, essa situação de desconforto, que perdurou durante o segundo trimestre, durou pouco. Os resultados já divulgados referentes ao terceiro trimestre mostram que as companhias elétricas retornaram ao lucro. A distribuidora paraense Celpa, que havia perdido R$ 56,6 milhões nos três primeiros meses do ano, lucrou R$ 99,6 milhões no terceiro trimestre. Já a integrada Equatorial, com atuação no Maranhão, superou as perdas de R$ 24,6 milhões entre janeiro e março e lucrou R$ 199,7 milhões entre julho e setembro. A Eletropaulo, por sua vez, que acumulava prejuízo de R$ 800 mil no primeiro trimestre, lucrou R$ 27 milhões no terceiro trimestre.
Essa mudança também aconteceu com AES Eletropaulo, Elektro, Cemar, Light, Energisa, Energia BR e AES Tietê. Todas elas apresentaram resultados muito melhores que os dos três primeiros meses do ano (veja quadro). Os bons resultados do terceiro trimestre seriam suficientes para justificar que o setor está retomando o fôlego? Segundo os especialistas, sim. A recuperação dos resultados tem como parte da explicação um evento não recorrente, que é o ressarcimento, por parte do governo, dos gastos que as companhias tiveram por terem comprado energia de termelétricas no início do ano.
Intervenção de Brasília: presidenta Dilma Rousseff anuncia medidas para baixar o preço da energia:
alteração dos contratos assustou os investidores
?O Tesouro vai desembolsar cerca de R$ 8 bilhões até dezembro para compensar as perdas dessas empresas?, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. ?As companhias também foram pressionadas, pelas mudanças nas regras, para reduzir perdas na distribuição de energia e despesas com pessoal, o que explica parte dos resultados positivos.? No entanto, também há fatores estruturais que explicam a melhora dos resultados. As empresas elétricas deverão ser bastante beneficiadas pelo crescimento econômico e pelo aumento da demanda nos próximos meses. A carioca Light é um bom exemplo. No terceiro trimestre ela anunciou um lucro de R$ 321 milhões, mais que o triplo dos R$ 78,6 milhões do início do ano.
A conjugação entre o aumento de consumo e a busca por mais eficiências na distribuição da energia e na gestão de pessoal justifica a alta. Paulo Roberto Pinto, presidente da Light, diz estar otimista. Nos próximos cinco anos, a companhia pretende colocar em prática um plano de investimentos que prevê desembolsos de R$ 2 bilhões. ?Com esses investimentos será possível alcançar eficiência operacional e reduzir perdas para chegarmos preparados para atender demandas dos grandes eventos que acontecerão no Rio?, diz Pinto. Essas mudanças representam uma oportunidade de compra para o investidor interessado nesses papéis, diz Rafael Falcão Noda, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e diretor da RN Finance.
Apesar da melhora no ambiente regulatório, Noda orienta o investidor a optar por empresas menos sujeitas às intervenções do governo, como as distribuidoras, por exemplo, ou então as companhias que já divulgaram planos de investimento para 2014. ?Quem já tem ações em carteira deve mantê-las?, diz Noda. ?Com o governo deixando clara a questão da regulação, será possível ter certeza sobre a tendência dos resultados dessas companhias?, afirma ele. Renato Campos, analista da empresa paulista de avaliação de ações Técnica Research, estima que as ações do setor de energia devem se valorizar em até 22,87% nos próximos 12 meses.