02/07/2024 - 20:29
A Equatorial Energia colocou ativos de transmissão à venda, como estratégia para fortalecer sua estrutura de capital para diversificar suas operações em saneamento, a partir de uma fatia de 15% da Sabesp, pela qual pagará pelo menos R$ 6,9 bilhões. Algumas linhas de transmissão do grupo já foram oferecidas a potenciais investidores, apurou o Estadão/Broadcast. Os termos da privatização da Sabesp preveem investimentos de R$ 70 bilhões até 2029 para universalização de serviços de água e esgoto.
A Equatorial tem atualmente nove concessionárias de transmissão, operando 3,2 mil quilômetros de linhas, em seis Estados. A Receita Anual Permitida (RAP) desses ativos soma R$ 1,3 bilhão. Uma pessoa com conhecimento do assunto disse que a ideia da empresa não é deixar o segmento de transmissão, mas apenas fazer uma “reciclagem de capital”.
O movimento não é inédito para a Equatorial. No ano passado, a companhia fechou a venda de 100% da Integração Transmissora de Energia S.A. (Intesa), para a Infraestrutura e Energia Brasil SA, numa operação envolvendo R$ 714 milhões, incluindo dívida.
Analistas não descartam que a empresa teste o mercado para outros ativos, em especial no segmento de geração, no qual a Equatorial tem 12 parques eólicos em operação, com 1,2 gigawatt (GW) de capacidade, além de uma usina solar de 283 MWp também operacional e um parque em fase adiantada de construção.
Oficialmente, a empresa afirma, em documento de non deal roadshow divulgado nesta terça-feira, 2, que possui um financiamento-ponte garantido com prazo de 18 meses e que tem “diversas alternativas a serem exploradas para a contratação do financiamento de longo prazo para a aquisição” da Sabesp.
Empréstimo
O Estadão/Broadcast apurou que a empresa já contratou bancos para levantar mais de R$ 5 bilhões. As instituições financeiras farão um empréstimo-ponte de 18 meses, garantido por debêntures, para posteriormente viabilizarem uma saída com venda ao mercado. A estrutura é semelhante à utilizada pela Iguá e pela Aegea para financiar a concessão dos serviços da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae), que passou em 2021 para a iniciativa privada, disseram fontes.
Estimativas iniciais feitas pela equipe de análise do Safra indicam que a operação da Sabesp resultará em um aumento da alavancagem (multiplicação da rentabilidade por meio de endividamento) para 4 vezes a dívida líquida/Ebitda, acima das 3,3 vezes reportadas no primeiro trimestre deste ano. A empresa possui compromissos financeiros (covenants) que limitam o indicador a 4,5 vezes.
Para os analistas Daniel Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto, embora a Equantorial tenha espaço em balanço para financiar a aquisição com dívida, tendo em vista a atual taxa Selic e o fato de um nível de alavancagem de 4 vezes parecer alto em comparação com outras empresas do setor de utitilies, a empresa poderia “escolher soluções alternativas para financiar esta transação”.
Essa avaliação também leva em consideração que os analistas vislumbram oportunidades adicionais de crescimento para Equatorial, em especial com outros leilões de saneamento esperados para 2024.
Ao apresentar sua visão sobre a operação na Sabesp, a Equatorial diz ter como objetivo transformar a empresa paulista em seu “veículo exclusivo” para investimentos em saneamento. A companhia destaca que o setor vai precisar de R$ 900 bilhões em investimentos no Brasil para levar água e esgoto a 100% da população nos próximos anos.
“Sabesp é a plataforma melhor posicionada para buscar oportunidades de crescimento inorgânico”, afirma a Equatorial, destacando que nos últimos cinco anos tem “consistentemente analisado” oportunidades no setor de saneamento. A empresa de energia promete utilizar sua “extensiva experiência na realização” de investimentos (capex) para otimizar a performance financeira da Sabesp.
A empresa de Saneamento de São Paulo é descrita como tendo “perspectiva robusta de crescimento” pela frente, além de possuir todas as receitas reguladas, o que garante “alta previsibilidade e estabilidade” do fluxo de caixa da companhia.
“A plataforma será operada por uma das principais companhias de utilities no Brasil, reconhecida por retornos excepcionais no longo prazo”, afirma a Equatorial. A empresa de energia promete utilizar sua “extensiva experiência na realização” de investimentos (capex) para otimizar a performance financeira da Sabesp.
A companhia ressalta ainda que o modelo de governança proposto pelo governo paulista na privatização “facilita uma colaboração efetiva” entre as partes, “garantindo a realização dessas alavancas de valor”.
Em parceria com o governo paulista, a Equatorial poderá eleger o presidente do conselho de administração da Sabesp e da companhia, além de participar das principais decisões da companhia, ressalta o documento.
A Equatorial, que teve receita líquida de R$ 40,7 bilhões no primeiro trimestre de 2024, tem uma concessão de saneamento, que atende 800 mil pessoas. Já em energia, tem 14 ativos de geração, 7 linhas de transmissão e 7 distribuidoras.
A Equatorial foi a única companhia a fazer uma oferta para se tornar investidor de referência da Sabesp privatizada. A companhia se qualificou com uma ordem de R$ 67,00 por ação, acima do mínimo de referência estabelecido pelo governo e cujo valor não foi revelado. O processo de venda da fatia de 17% ao mercado ocorre no dia 18 próximo.