De Getúlio Vargas a Luiz Inácio Lula da Silva, todos os presidentes da República chegaram ao poder com um objetivo. O primeiro deles implantou as leis trabalhistas. Juscelino Kubitschek interiorizou o desenvolvimento econômico, com a construção de Brasília. 

 

Collor tentou, com apenas um ippon, aniquilar a inflação. Essa tarefa acabou sendo conseguida por Fernando Henrique, o presidente do Plano Real. Lula, por sua vez, foi quem mais apostou na inclusão social. E Dilma Rousseff? Bem, a primeira mulher a ocupar o cargo mais importante da nação tem objetivos bem concretos para seu mandato. 

 

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Mais inclusão: elevação do gasto social ajudou a reduzir a distância entre o morro e o asfalto

 

O principal deles é acabar com a extrema pobreza, jargão usado pelos economistas para falar de miséria. E não parece ser uma tarefa impossível. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que é possível eliminar essa chaga social até 2016 – ao todo, são 18 milhões de brasileiros nessa condição. 

 

Dilma, porém, se mostra mais ambiciosa. Acredita que dá para finalizar a tarefa já em 2014. “Mantido o padrão de distribuição de renda e crescimento econômico do governo Lula, a previsão do Ipea é factível. Contudo, acho que devemos ser mais ousados”, afirma. Trata-se de uma grande evolução nesse debate.

 

Especialmente quando o confrontamos com as correntes majoritárias do pensamento econômico das décadas de 1970 e 1980 que pregavam ser necessário, primeiro, ampliar o bolo para depois dividi-lo. Nos últimos oito anos, ficou claro que havia alternativa. O fim da inflação e a adoção de políticas sociais mais vigorosas fizeram emergir um contingente de novos consumidores, que faziam parte da classe C. São mais de 42 milhões de brasileiros, o equivalente a uma Espanha, que até bem pouco tempo atrás estavam à margem do consumo. 

 

Com mais dinheiro no bolso, eles trataram de mobiliar a casa, investir na educação dos filhos e consumir itens até então inimagináveis. Viajar de avião deixou de ser um sonho distante. Estudo da consultoria Data Popular indica que 54% das pessoas que usaram esse meio de transporte, em 2009, pertenciam à classe C. E mais. 

 

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A vez da classe D: famílias como a de dona Altina já se beneficiam da expansão do crédito

 

O estudo aponta que 2,4 milhões de brasileiros de baixa renda deverão entrar em um avião pela primeira vez em 2011. “A classe C é o motor do crescimento do Brasil”, aponta Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular, empresa de pesquisa especializada em consumo popular. 

 

O setor de aviação, na verdade, é uma das últimas atividades a se beneficiar do voraz apetite da classe C. A maior abertura do crédito também abriu as portas desse mundo para os integrantes de um nível abaixo da pirâmide: a classe D. Mais importante que beneficar pessoas individual-mente, a ampliação da renda teve impacto direto no desenvolvimento da economia. 

 

Os setores industrial, comercial e de serviços cresceram graças a brasileiros como a paulistana Altina Cristina dos Santos, 36 anos. Casada e mãe de três filhos, ela exibe orgulhosa o computador que deu de presente ao caçula. Mas quem enfeita a sala de sua casa, no Jardim São Luís, periferia da zona sul de São Paulo, é uma vistosa tevê de plasma de 50 polegadas. 

 

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Paga em suaves prestações. Esses mimos foram obtidos com o dinheiro ganho no salão de beleza improvisado que ela montou no quintal da residência. “Minha vida melhorou muito nos últimos anos”, diz Altina, que, agora, atende uma clientela limitada para poder passar mais tempo com o netinho que acaba de nascer. 

 

Os números mostram que existem milhares de Altinas espalhadas pelo País. Gente que se beneficiou de uma política de distribuição de renda que começou a ser tocada de forma mais vigorosa a partir do governo Lula. No período 1985-2010, o gasto social subiu de 13% do PIB para 23%.  “Trata-se de um patamar semelhante ao de países ricos. Mas ainda há muito a ser feito”, destaca Márcio Pochmann, presidente do Ipea.

 

O economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, concorda. Defende, no entanto, uma abordagem mais vigorosa, que priorize apenas quem está abaixo da linha da miséria. “O governo, em todas as esferas, poderia ter feito muito mais, caso tivesse focado suas ações sociais somente na base da pirâmide”, pontua Neri.

 

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Pelas contas do economista, o custo de medidas desse porte é plenamente aceitável: “Bastaria destinar R$ 21 bilhões por ano a programas de complementação de renda”, diz o economista.  Independentemente da fórmula, existe um consenso de que essa luta é possível.