Imagine colocar o corpo em forma e ainda curtir um bom filme em um cinema cheio de bicicletas ergométricas e esteiras de corrida. Ou ainda rebolar em uma boate na qual os passos executados na pista de dança produzem a energia necessária para o funcionamento dos equipamentos. O Cinema- Academia e a Balada Sustentável, respectivamente, estão orçados em até R$ 5 milhões. Mas dificilmente sairão do papel. Eles integram a lista de ?Planos de Negócios? concebidos por adolescentes com idade entre 15 anos e 17 anos que estudam na Escola Internacional de Alphaville. A elaboração de projetos é uma das inúmeras tarefas da disciplina de empreendedorismo que, desde fevereiro, faz parte da grade curricular do nível médio. E é um assunto que tem de ser levado muito a sério. A carga horária é pesada. São 390 horas divididas em três anos, num formato semelhante ao de um MBA. Quem tiver desempenho insatisfatório ?leva bomba?. O idealizador da matéria, Ricardo Chiocarello, diretor e sócio do colégio, diz que se baseou em consultas informais com os pais dos alunos. ?Foi a forma que encontramos de diferenciar o nosso modelo educacional?, conta.

Encravada no bairro de Aphaville, região nobre de Barueri (Grande São Paulo), a escola é freqüentada majoritariamente por filhos de presidentes de empresas e de altos executivos. Mas será que introduzir precocemente os jovens no árido ambiente de negócios não pode contaminar a escolha profissional deles, induzindoos a seguir a carreira dos pais? Guilherme Miranda, diretor para América Latina da Alcoa e pai de Gustavo, de 15 anos, assegura que não. ?A atitude empreendedora é vital para o sucesso profissional em qualquer área?, argumenta. ?Trata-se de uma ferramenta útil em todas as etapas de nossa vida?, concorda Fábio Parrella, de 17 anos, um dos criadores da Balada Sustentável.

Chiocarello fez um projeto ousado para o padrão brasileiro. Experiências semelhantes, inclusive na rede pública, têm se limitado a uma abordagem superficial do tema. O modelo implantado pelo empresário, graduado em engenharia e com especialização em marketing, é diferente e se inspirou em colégios dos Estados Unidos e da Europa.

No primeiro ano as disciplinas se limitam a business english, liderança, ética e elaboração de plano de negócios.

Os jovens também participam de palestras com expoentes da cena empresarial. Michel Levy, da Microsoft, e Maria Luiza Rodenbeck, da Starbucks, já passaram por lá. A bibliografia inclui bestsellers do gênero como Sete Hábitos dos Adolescentes Altamente Eficazes, do americano Sean Covey. Para 2008, a meta é adicionar tópicos como consumo consciente, finanças pessoais, direito (defesa do consumidor e tipos de contratos, por exemplo) e política.

O investimento para introduzir a disciplina foi mínimo. ?Apenas adequamos a grade curricular e contratamos alguns professores?, conta Chiocarello. Seu principal desembolso, até agora, foram os R$ 15 milhões gastos para construir e equipar a escola inaugurada em setembro de 1999. O marketing de boca a boca, um potente instrumento de divulgação em se tratando de um negócio com esse perfil, já começa a apresentar resultados. ?O número de consultas sobre matrícula para 2008 aumentou 20% em relação ao ano passado?, conta Chioccarello, que, não por acaso, se define como um empreendedor nato.