26/02/2017 - 9:30
Menos paradas em frente às cabines dos jurados, menor duração dos desfiles, menos sambistas, escolas de samba menores. Com o objetivo de tornar as apresentações mais ágeis e atraentes aos olhos do público da Sapucaí e de quem acompanha o espetáculo pela TV Globo, cujos números de audiência têm oscilado, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) mudou o regulamento para o carnaval deste ano. Haverá menos gente na passarela, por menos tempo.
O início dos desfiles foi atrasado em meia hora. Eles começarão às 22 horas, sucedendo, no domingo, ao “Fantástico” e na segunda-feira, ao “Big Brother Brasil”. Em vez de 82 minutos, as agremiações terão 75 minutos na Passarela do Samba. Por isso, todas as escolas tiveram de enxugar seu número de integrantes, em média, em 10%. Serão cerca de 5 mil pessoas a menos na pista, o que equivale a pouco menos de duas escolas.
A Mangueira, que tinha um dos maiores contingentes, cortou cerca de mil pessoas, chegando a 3.500, que é o recomendado pela Liesa. As alas minguaram. Na Beija-Flor, um setor inteiro foi eliminado, para que de 4 mil componentes saíssem 500. A Imperatriz passou de 3,1 mil para 2,8 mil, e será uma das menores escolas.
Outra mudança, também para dinamizar os desfiles, foi a redução do número máximo de carros alegóricos permitidos – eram sete, agora são seis. As cabines dos jurados seguem quatro, mas agora duas estarão juntas, de modo que serão três as paradas para apresentação das comissões de frente e dos casais de mestre-sala e porta-bandeira.
As novidades fazem de 2017 um “ano-laboratório” na Sapucaí, definem carnavalescos, dirigentes e a própria Liesa. A redução dos minutos pode levar a uma corrida ao fim do desfile, temem alguns. Outros reclamam da influência da TV Globo em um espetáculo que foi criado pelas agremiações nos anos 1920/1930. “A Globo não participou do processo. Algumas escolas tinham tamanho exagerado”, rebate o presidente da entidade, Jorge Castanheira.
O presidente da Portela, Luís Carlos Magalhães, destaca que “nem sempre o que a mídia quer é o melhor para as escolas e vice-versa”. “Mas muita gente estava achando o desfile chato, tanto no Sambódromo quanto pela TV, então houve necessidade de ajuste”, afirma. “O mundo mudou, as pessoas querem tudo mais rápido. Temos que nos adequar para agradar o público do Brasil todo.”
Presidente da Mangueira, Francisco de Carvalho acredita que as escolas devem se adaptar para manter o interesse pelos desfiles, uma vez que há mais de quatro décadas o espetáculo se transformou num evento também televisivo. “As mudanças vão ajudar muito o desfile, mas a Mangueira é uma escola que tem dificuldade de se adaptar, por ser muito grande. A Globo mostrou que os números são oscilantes. É por causa da transmissão que o desfile se transformou no maior espetáculo da Terra.”
Observador dos desfiles desde os anos 1970, o coordenador do Centro de Referência do Carnaval da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Felipe Ferreira, considera razoável o encurtamento do desfile, desde que isto não se repita nos próximos anos. Mas é radical quanto às paradas nas cabines: acha que deveriam ser cortadas por completo. “A TV não pode ter a última palavra. As alas acabam perdendo importância, e as escolas vão deixando de lado os componentes, que são o que torna nosso carnaval único, lhe dão identidade. O desfile não é só um espetáculo, é um evento da cultura popular”, defende.
Segundo a Globo, a audiência no Rio era de 14 pontos em 2013, passou a 12 em 2014, 13 em 2015 e chegou a 15 pontos em 2016. A emissora informou que o regulamento e os horários “cabem à Liesa”. A transmissão começará às 22h20 – ou seja, se o Paraíso do Tuiuti, no domingo, e a União da Ilha, na segunda-feira, iniciarem suas apresentações pontualmente, os espectadores perderão mais de um quarto de seus desfiles.