Chegamos à segunda quinzena de setembro de 2022 com a sensação de ter retrocedido décadas. A recente divulgação de dois índices fazem tremer quem luta por um mundo mais justo e igualitário. A Organização Internacional do Trabalho lançou no início da semana um documento intitulado Estimativas Globais da Escravidão Moderna (em tradução livre) que afirma haver mais de 50 milhões de pessoas em situação de escravidão moderna. São 10 milhões a mais do que havia no último levantamento, realizado em 2016. Na quarta-feira (14), a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), anunciou que três em cada dez famílias brasileiras sofrem insegurança alimentar moderada ou grave.

Sobre a escravidão, há um detalhe que chama especial atenção. Segundo o relatório, mais da metade (52%) de todos os casos de trabalho forçado ocorrem em países de renda média alta ou alta. Mas as vítimas são grupos minorizados e excluídos como os mais pobres, os trabalhadores informais, imigrantes e pessoas mais vulneráveis à discriminação. Um dos componentes para a escravidão é, portanto, a má distribuição de renda.

União Europeia quer banir produtos feitos com trabalho escravo

Ainda que no Brasil o trabalho escravo também seja uma realidade sempre presente, nesta semana a agenda social foi tomada pelo medo da fome. Pelo relatório assinado pela Penssan 30,7% da população brasileira vivem em situação de insegurança alimentar grave ou moderada e há outra parcela de 28% de brasileiros com preocupação sobre a disponibilidade de alimentos. A pior situação está nas regiões Norte e Nordeste, onde o índice de insegurança alimentar severa é de 25,7% e 21% respectivamente.

Neste contexto trágico, vale chamar as empresas e empresários para olharem e, quem sabe,  atuarem em ao menos alguns desses problemas reais e materiais. Deixar na mão do governo a responsabilidade por acabar com situações de trabalho análogas à escravidão ou com a fome se prova ineficiente há 500 anos.

Certificar a cadeia para evitar situações de escravidão, incluir cada vez comunidades vulneráveis em programas de educação, capacitação e na economia formal, olhar para as comunidades mais distantes em um programa de erradicação de fome podem engradecer estratégias de responsabilidade ambiental e social.

O Brasil e o mundo estão enfrentando problemas sérios que envolvem a dignidade humana e está na hora da iniciativa privada assumir o protagonismo nessa mudança. A janela de oportunidade está aberta com a possibilidade de vantagens para quem escolher essa jornada com ganhos reputacionais, de acesso a mercado e, acima de tudo, de bem-fazer.