Pelo menos 6,5 milhões de pessoas no Brasil não vão conseguir ler esse texto ou terão imensa dificuldade em chegar até o fim desta história. Elas integram o contingente daqueles que enfrentam a dura realidade de quem tem deficiência visual ou baixa visão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a dificuldade está em questões do dia a dia, como atravessar uma rua, ter acesso ao cardápio de um restaurante ou até conseguir comprar uma água mineral. A Minalba Brasil, companhia que pertence ao grupo cearense Edson Queiroz, enxergou essa dor e criou um novo modelo para garantir mais autonomia a essas pessoas.

Desde janeiro, 100% do portfólio de água mineral em lata da companhia, que inclui as marcas Minalba e Indaiá, passou a ter, na tampa, as inscrições ‘água’ e ‘com gás’ em braile. “Nossa ideia é impactar o setor com este modelo novo e dar a contribuição para que outras empresas também adotem essa solução inclusiva”, afirmou à DINHEIRO Aélio Silveira, CEO da Minalba Brasil.

A iniciativa contou com a consultoria da Fundação Dorina Dowil para Cegos, entidade referência em ações para esse público, e com apoio da Ball Corporation, responsável pela produção da lata de alumínio. “Para quem enxerga, pode ser um impacto pequeno, mas é enorme para as pessoas com deficiência visual que vivenciam essas questões todos os dias. É emocionante”, disse.

Em outubro, a marca Minalba já havia implementado o formato inclusivo nas latas. E, agora, concluiu o processo com a entrada da Indaiá.

O próximo passo, segundo o CEO, é levar o braile para a tampa da marca de energético da companhia ainda no primeiro semestre, além da criação do latão de 473ml para o produto. Um vídeo mostra uma atleta com deficiência visual fazendo a leitura tátil dos pontos em relevo na tampa durante a Corrida Desafio Minalba, realizada em dezembro, em São Paulo.

Minalba hoje fabrica 14,4 milhões de latas de alumínio por ano. Companhia tem quase 25% de participação no mercado no Brasil (Crédito:Divulgação)

CONSOLIDAÇÃO

Silveira lembra que o episódio em que o jornalista William Bonner, da Rede Globo, abriu uma lata ao vivo durante a transmissão da cobertura das eleições, em 2022, representou um divisor de águas — literalmente — para a companhia. “Foi um impacto fantástico. A lata tinha sido lançada em 2020, como essa nova experiência de consumo. E, naquele período, a gente cresceu quase 300% e nos ajudou a explicar à população a nossa ideia sobre essa caminhada ESG”, afirmou. “É um mercado importante e com este conceito de sustentabilidade.”

Na reciclagem de alumínio, o Brasil é referência. Segundo dados da entidade Recicla Latas, o País reciclou 3,3 milhões de toneladas de latas de alumínio em 10 anos, sempre com percentual acima de 96% do total disponível no mercado. Em 2023, alcançou 100%.

Os números da companhia mostram o crescimento deste segmento de embalagem mais sustentável.

• O executivo afirmou que o mercado cresceu, entre 2020 e 2023, 120%.
• Líder de mercado, a Minalba tem atualmente 24,7% de share e 25,4% em valor.
• No ano passado, a empresa fechou o ano com média mensal de 1,2 milhão de latas produzidas, com volume anual de R$ 14,4 milhões.
• A expectativa para 2024 é de crescimento de 50% na produção, com a entrada da Indaiá neste novo modelo do produto.
• A grande maioria do portfólio da Minalba ainda é produzida no formato PET, que representa perto 90%, mas o trabalho é justamente para diminuir essa diferença.

“Temos buscado incentivar novos consumidores com essa experiência. Vamos lembrar que até 2020 não havia água em lata e nós mudamos esse mercado.”

Na jornada social, a Minalba também implementou o escrito em braile na lata desenvolvida em parceria com a Gerando Falcões, cujos valores de venda são revertidos para a associação. “A ideia era dar voz, através da arte na embalagem, feita com artistas indicados pela organização, com uma lata exclusiva”, disse o CEO. O lançamento foi feito em agosto.

A empresa no momento tem trabalhado no processo de expansão da distribuição do modelo social. A produção atual da lata da Gerando Falcões é de 240 mil unidades por mês.

Silveira afirma que a Minalba Brasil, que hoje conta com 14 marcas, sendo nove de água, é a segunda maior empresa do grupo Edson Queiroz (a primeira é a Nacional Gás), que atua em diversos segmentos e que em 2022 faturou R$ 13,5 bilhões (os números de 2023 ainda não foram divulgados).

“Para a Minalba, tem sido um momento importante. As frequentes ondas de calor impactam muito nosso negócio. E nosso desafio é nos preparar para o aumento da demanda.” Os olhos da companha estão bem atentos para isso.