Há um mês escrevi, neste espaço, um artigo abordando o falacioso movimento anti-ESG nos EUA. Evidências mais recentes confirmam não só que os republicanos ativistas da causa estão ficando cada dia mais sozinhos, mas que a sua tese segue em queda livre de prestígio entre os atores do mercado.

Segundo pesquisa do banco Morgan Stanley, aplicada a 300 empresas com receitas superiores a US$ 100 milhões, os líderes de negócios de três continentes já enxergam a sustentabilidade como fator de geração de valor. Quando perguntados sobre como a sustentabilidade impacta a estratégia corporativa de longo prazo, 85% dos entrevistados afirmam que ela é principalmente (53%) ou parcialmente (32%) uma oportunidade para criação de valor.

Queiram ou não os defensores do anti-ESG, parece clara, segundo o estudo, a tendência também verificada no Brasil de convergência das estratégias de ESG com as de negócio. Se, no passado, a decisão por investir em sustentabilidade atendia basicamente às pressões externas, agora já leva em conta razões intrínsecas ao valor dos negócios.

O alto nível de investimento continua sendo, na avaliação dos entrevistados, o mais relevante (70%) entrave à implementação das estratégias de sustentabilidade. No entanto, 76% admitem que, nos próximos cinco anos, as medidas de ESG vão resultar em redução de custo de capital (capital próprio e/ou dívida) para os investidores. Um em cada três entrevistados enxerga oportunidades para alinhar melhor as necessidades de financiamento com a estratégia de sustentabilidade, adotando, por exemplo, instrumentos de finanças sustentáveis como os títulos verdes. A emergência climática deve acelerar o fluxo. Espera-se um volume significativo de alocação de capital para fazer frente, por exemplo, ao necessário investimento em tecnologias limpas e transição energética.

Do estudo do Morgan Stanley emerge uma conclusão desconfortável para os embaixadores anti-ESG: a maioria dos entrevistados (55%) não tem dúvidas de que os critérios de sustentabilidade mudarão as principais decisões empresariais relacionadas a despesas de capital, gestão de riscos, desenvolvimento de novos produtos, fusões e aquisições.

E por falar em fusões e aquisições (F&A), estudo recente da Deloitte aponta que o ESG vem ganhando força também como filtro de análise entre líderes corporativos e de private equity. Antes considerados apenas ocasionalmente, fatores ambientais, sociais e de governança passaram a contar nas avaliações, definição de metas, gestão de portfólio e demais etapas do ciclo de vida de F&A. Admite-se hoje que impactam muito na qualidade dos ativos, na atração de talentos e na reputação.

A evolução do papel do ESG em F&A deve ser atribuída à maior disponibilidade de dados, melhores ferramentas e um entendimento mais amplo sobre como os temas materiais afetam os negócios. Ainda segundo a pesquisa da Delloite, cerca de 57% dos líderes globais de F&A estão utilizando metodologias ESG mais precisas em 2024, 18% a mais do que em 2022. Cerca de 78% dos que usam métricas consagradas se reconhecem mais confiantes ao avaliar o perfil ESG de uma empresa em curso de fusão ou aquisição.

Prova de que é um processo consistente e sem volta, o melhor ou pior perfil ESG começa a pesar na definição de prioridades de compras ou desinvestimentos. Quase três quartos (74%) das empresas alegam ter avaliado seus alvos segundo uma perspectiva de ESG. Percentual semelhante (67%) afirma ter usado o mesmo critério para descontinuar investimentos em seus portfólios.

Definitivamente, o ESG nunca esteve tão vivo. Nunca dialogou tão intimamente com as regras do jogo do capitalismo contemporâneo. O resto é gritaria para desviar a atenção.

Ricardo Voltolini é CEO da Ideia Sustentável, fundador da Plataforma Liderança com Valores, mentor e conselheiro de sustentabilidade