20/08/2003 - 7:00
A espada era a arma usada pelos mosqueteiros Athos, Porthos, Aramis e D?Artagnan, personagens criados pelo escritor francês Alexandre Dumas, para cumprir as ordens do rei. Hoje, na guerra corporativa, as armas são outras. Em São Paulo, quatro mosqueteiros modernos travam diariamente uma batalha contra números, planilhas e balanços. O objetivo dessa turma é aumentar, ainda mais, os lucros dos bancos brasileiros, um setor tido como modelo de eficiência e rentabilidade. Para levar a missão adiante, esses profissionais duelam contra custos desnecessários. Os inimigos em questão são os gastos exagerados acumulados pelas instituições financeiras durante décadas de inflação. Não é raro, por exemplo, encontrar bancos com gráficas próprias e uma enorme rede de prédios e agências. São despesas como essas que os espadachins da Solving International, consultoria francesa há quatro anos radicada no Brasil, procuram cortar. ?Não faz nenhum sentido banco ter gráfica, padaria ou agência própria?, defende o belga Martin Bernard, responsável pelo escritório da Solving no Brasil. ?É bem mais lucrativo aplicar esses recursos no mercado, seja comprando títulos públicos ou emprestando aos clientes.?
Foi com esse argumento que os consultores da Solving convenceram executivos de bancos a vender suas redes de agências. A fórmula escolhida por eles foi o leilão de imóveis. Para atrair investidores, o banco garante um aluguel por uma parcela do valor do imóvel e prazos de locação de até dez anos. Bons de conta, os executivos do sistema financeiro logo perceberam que se tratava de um negócio lucrativo. ?O custo do aluguel médio é de 11,5% sobre o valor do imóvel. Se investisse esse dinheiro em papel do governo, que paga a taxa básica, o ganho já seria de cerca de 13%?, calcula Antonio Bento Mendonça Neto, vice-presidente da Solving. Resultado: de junho do ano passado, quando o Bradesco realizou a primeira operação, até o mês passado, foram 1.238 agências vendidas no País. Itaú, Unibanco, Santander-Banespa, Real ABN-Amro e Mercantil do Brasil também fizeram seus leilões. No total, foi arrecadado mais de R$ 1,5 bilhão.
Agora, a Solving trabalha para convencer os bancos a vender sua rede de caixas automáticos, os chamados ATMs. Diferentemente de outros países, a maioria dos bancos brasileiros tem a sua própria rede, não compartilhando equipamentos. Somente o Banco do Brasil tem 34.131 ATMs. ?Só esse número é maior que o total de máquinas em operação em toda Alemanha?, compara Sérgio Reis, diretor da Solving. Isso acaba gerando custos desnecessários, como instalação e manutenção dos equipamentos. A idéia da Solving é que os bancos vendam essas estruturas para terceiros, que administrariam as redes como um novo negócio. Até o momento, nenhuma instituição financeira ofereceu sua rede no mercado. Mas já há interessados. ?Quando algum banco anunciar que está vendendo a sua rede, não faltarão compradores?, diz um executivo do setor.
Sem agências ou redes próprias, o que mais virá de novidade no sistema financeiro? ?No futuro teremos as agências sem marca, que atenderão a clientes de vários bancos?, responde Luiz Felipe Ferlauto, diretor da Solving. Segundo o consultor, essa nova fórmula de atendimento bancário poderá ser implantada com a unificação de serviços comuns aos bancos, o chamado back office. Com isso, serviços como pagamento e processamento de contas em geral ficariam de fora da estrutura principal dos bancos, que concentrariam seus esforços e funcionários na venda de produtos e na prestação de serviços financeiros aos clientes, segmentos bem mais lucrativos. Pelos cálculos da Solving, uma unificação como essa geraria uma redução de até 30% dos custos dos bancos. Seria a prova de que o famoso lema dos Três Mosqueteiros ? ?Um por todos e todos por um? ? também é válido no mercado financeiro.