27/05/2011 - 7:00
Crise na zona do euro, lenta recuperação da economia americana, preços das commodities em queda, terremoto no Japão, e China fazendo ajustes para enfrentar a inflação. Motivos não faltam para a queda generalizada nas bolsas.
?O resultado imediato é que todas as bolsas mundiais operaram e operam em baixa, enquanto o dólar americano se valoriza frente ao euro e as commodities ensaiam mais uma rodada de queda de preços nas bolsas?, resume o economista da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, registra desvalorização de 7,65% em 2011. A do México amarga um tombo de 8,76% no período, e Tóquio um recuo de 3,71%. Dow Jones, índices S&P 500 e Nasdaq também estão negativos no ano.
Seguradoras e fundos, principalmente os japoneses, precisam liquidar suas posições de ações e de commodities para fazer caixa para reconstruir o país após o terremoto e ameaça nuclear.
Além disso, como efeito cascata, o dólar se elevou, pois é um dos ativos mais demandados em tempos de crise. E no cenário de queda das bolsas, também não dá para ignorar os problemas relacionados ao petróleo, que também está freando investimentos e compras.
Crise na Europa
A bola da vez na lista de preocupações em relação à zona do euro é a dívida dos países Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Segundo os especialistas, por lá as bolsas andam lateralmente em resposta aos déficits, planos fiscais severos e a forte cultura de bem estar social. O índice FTSEurofirst 300 registra queda de 0,3% no ano.
A agência de classificação Fitch cortou o “rating” de crédito da Grécia por três graus, passando o mesmo de “altamente especulativo”, para o território “junk bonds”.
A Itália, que já sofria do ?efeito Berlusconi? viu a agência de classificação S&P reduzir sua perspectiva de estável para negativa. Já Portugal foi objeto de ajuda na última semana, mas suas contas públicas continuam em situação precária.
Na Espanha, o governo sofreu expressiva derrota nas eleições no último final de semana, o que corresponde a uma reprovação pública do rumo econômico do país.
A Grécia está em maus lençóis, mas os outros países preocupam mais segundo especialistas. A estrategista e sócia da Kodja & Company Investimentos, Claudia Kodja, aposta no perdão de boa parte da dívida. ?Não existe outra alternativa?, afirma.
?O problema da Europa é que não há transparência sobre o tamanho do problema. Como a Espanha acaba de passar por eleições, as coisas devem piorar em breve, já que nenhum governo vai bancar o problema do anterior. Pelo contrário, vão é tocar o pé no vespeiro?, avalia Kodja.
Lentidão nos EUA
Ao contrário da Europa, a situação de crise dos Estados Unidos é clara, mas parece cada vez mais distante da solução. Sucessivos índices ruins nas últimas semanas aumentaram o receio do mercado sobre questões estruturais norte-americanas.
Por exemplo, foi divulgado nesta quarta-feira (25/05), que os pedidos de bens duráveis tiveram queda acentuada em abril nos Estados Unidos, 3,6%. A queda surpreendeu os analistas, que, embora já a previssem, calculavam uma baixa menor.
Segundo um levantamento feito pela empresa Realty Trac, os bancos e outras instituições financeiras do ramo imobiliário podem despejar cerca de um milhão de famílias de suas casas por falta de pagamento. Vão sobrar casas no mercado americano e os bancos serão obrigados a baixar os preços. Os preços mais baixos podem fazer com que os bancos percam até US$ 40 bilhões.
Por isso, especialistas apostam que o país deve devem continuar a preocupar os analistas, com o elevado déficit fiscal e as dificuldades de Obama de costurar um plano de longo prazo para reduzi-lo.
?A bolsa americana está em trajetória leve de alta desde maio de 2009. Mas o crescimento do país é tímido e o endividamento é alto. Só a melhora concreta do mercado de trabalho vai refletir positivamente nos índices da bolsa norte-americana?, diz Kodja.
Brasil na lanterna
Se a economia no Brasil vai tão bem, por que a Bolsa não acompanha? O volume diário médio de negociação caiu de R$ 6,5 bilhões em dezembro para R$ 4,8 bilhões em maio, uma baixa de 26%.
A inflação está na lista negra da Ibovespa, mas é menos prejudicial que as medidas do governo em restrição ao crédito, que faz com que as ações do setor bancário sofram com as expectativas de novos anúncios.
Para completar, o desempenho pífio de ações da Vale e da Petrobras até maio, explica o forte revés. As ações preferenciais da Vale caíram 11,42% em 2011. Já as preferenciais da Petrobras desabaram 13,23%, enquanto as ordinárias registraram baixa de 12,89%. A queda das duas ações corresponde a quase 50% da queda no índice este ano. Atualmente o peso delas no índice, juntas, é de 25,29%.
Fuga em massa
Sem garantias, os investidores estrangeiros, que compõem praticamente um terço da movimentação do mercado brasileiro estão trocando a bolsa pela renda fixa. ?Os investidores estão temerosos com relação à maneira de o governo enfrentar a inflação?, disse Eduardo Collor, analista da Banif Corretora, em entrevista a revista DINHEIRO. Segundo ele, não há razões para esperar uma reversão do cenário no curto prazo. ?O índice deve oscilar entre 57.000 e 71.000 pontos por muito tempo?, diz Collor.
No entanto, segundo os especialistas, não é hora de sair da Bolsa. Somando-se a desvalorização e a inflação nos últimos 12 meses, o Ibovespa está cerca de 8% mais em conta do que há um ano. Os analistas dizem que há boas alternativas no pregão, e quem vender agora pode deixar de ganhar no médio prazo.