04/09/2020 - 8:47
Quem poderia imaginar que as luvas descartáveis se tornariam um objeto de especulação? Em plena pandemia, com a demanda em alta, a Malásia, um dos principais produtores, não consegue manter o ritmo de produção e os preços disparam.
“Temos centros médico-sociais que ligam todos os dias para pedir luvas”, afirma Sébastien Lenoble, um dos diretores da empresa europeia Shield Scientific, que comercializa luvas para indústrias farmacêuticas e tem fornecedores na Ásia.
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“Não são nossos clientes habituais, nos procuram porque estão desesperados. Não encontram luvas”, explica.
Na França, Romain Gizolme, da associação de diretores de casas de repouso AD-PA, admite o problema.
“Encontramos luvas a conta-gotas, mas somos grandes consumidores”, declarou à AFP.
Com a crise de saúde, a demanda por luvas disparou, assim como a procura por máscaras e álcool gel.
A demanda, independente da versão (látex, vinil ou nitrílica), está quatro vezes maior que em 2019, de acordo com o ministério da Economia da França.
Apenas para o setor médico, “a demanda por luvas de exame mais que triplicou e a de luvas cirúrgicas também aumentou de forma considerável”, destaca Monika Riedel, porta-voz da empresa austríaca Semperit, cuja filial médica Sempermed tem duas fábricas de produção de luvas, uma na Áustria e outra na Malásia, onde fabrica entre 7 e 8 bilhões de luvas de exame por ano.
– Especulação –
Neste ponto começa o problema: a produção se concentra na Ásia, sobretudo na Malásia. Em 2019, o país exportou mais de 60% das luvas de borracha, de acordo com a Margma, a federação malaia de produtores de luvas.
Este ano, o país fornecerá quase 220 bilhões de peças. Mas o número não é suficiente para cobrir a necessidade mundial, que pode alcançar 330 bilhões de luvas, alertou em junho a federação, um desequilíbrio que pode prosseguir até 2021.
Para a empresa malaia Top Glove, que se apresenta como a maior produtora do mundo, a demanda é exponencial: a cada mês são encomendadas entre 11 e 12 bilhões de luvas, contra 4,5 bilhões antes da pandemia.
Por este motivo, os compradores devem esperar, às vezes até 590 dias, ressalta Lim Wee Chai, diretor geral da empresa. Antes da crise, o prazo era de 30 a 40 dias.
Além disso, o governo dos Estados Unidos proibiu recentemente a importação de luvas de duas filiais da Top Glove por suspeitas de “trabalho forçado” entre os funcionários.
Neste contexto, a especulação é cada vez maior.
“As matérias-primas podem ser negociadas três ou quatro vezes antes de chegar à fábrica”, lamenta Sébastien Lenoble, da Shield Scientific. “Hoje, temos que enfrentar um aumento de 80% no custo de produção”.
“Em junho, nosso fornecedor anunciou preços entre duas e 10 vezes maiores na comparação com o período antes da covid-19”, afirma a empresa francesa Rostaing, que comercializava, antes da crise, dois tipos de luvas descartáveis, além de seu catálogo de luvas técnicas.
Na Top Glove respondem que “os preços se ajustam para refletir a forte demanda do mercado” e alegam que também há mais problemas para encontrar as matérias-primas.
Este aumento de preços representa um “custo adicional” importante para os serviços às pessoas, adverte Romain Gizolme.
Para garantir que o setor médico tenha material suficiente, alguns países optam por grandes pedidos. A França anunciou no fim de agosto a encomenda de 400 milhões de luvas e a Alemanha também adquiriu quase 340 milhões de peças.
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