De olho no segmento de linha branca, a companhia inaugurou em fevereiro a produção de máquinas de lavar em sua fábrica de Extrema, em Minas Gerais, que já produzia refrigeradores. Apesar de fatores macroeconômicos como câmbio, inflação e alta dos juros afetarem os negócios da empresa no País, Murakami se mostra otimista. “O Brasil está entre os cinco maiores mercados de bens de consumo do mundo”, diz o executivo, que recebeu a DINHEIRO na sede da companhia, em São Paulo. Dona de um faturamento global de US$ 55 bilhões, a empresa aposta nas oportunidades de negócios gerados pelos eventos esportivos, como a Copa e a Olimpíada, e na demanda por eletrodomésticos que poupam eletricidade.


DINHEIRO – Por que a Panasonic aposta no Brasil? 

HIROTAKA MURAKAMI – Investimos aqui principalmente por causa do grande potencial de negócios. Basta olhar o tamanho da população, em torno de 200 milhões de habitantes. Está entre os cinco maiores mercados de bens de consumo do mundo. Além disso, o governo está fazendo investimentos em infraestrutura, que vão melhorar o ambiente de negócios.

 

DINHEIRO – A Panasonic inaugurou uma linha de produção de máquinas de lavar no Brasil. Por que investir num segmento que, no mercado brasileiro, é dominado por gigantes como Electrolux e Whirlpool?

MURAKAMI – Em primeiro lugar, nós detectamos uma demanda potencial de máquinas de lavar. É diferente dos televisores e refrigeradores. Então, tende a crescer. É claro que não pretendemos competir diretamente com gigantes como Electrolux ou Whirl­pool, porque somos os últimos a chegar nesse mercado. Não podemos simplesmente colocar novos produtos no mercado, assim como nossos concorrentes, e competir com preços. Não podemos fazer isso. Para nos diferenciar dos concorrentes, vamos trazer produtos com recursos únicos e com tecnologia única, como a que reduz o consumo de energia. Outra característica é um produto com grande capacidade, que lava até 16 quilos, que ainda não existe no mercado.

 

DINHEIRO – O sr. está mirando a numerosa classe C?

MURAKAMI – Por enquanto, os nossos produtos têm preços altos por causa dos modernos recursos. Portanto, temos como foco inicial as classes A e B. Mas, gradualmente, vamos disponibilizá-los para a classe C. Como já ressaltei, somos recém-chegados no segmento de máquinas de lavar. Então, primeiro temos de estabilizar a nossa marca no mercado e, para isso, decidimos começar pela classe alta. Mas, no futuro, vamos introduzir nossos produtos de forma gradual para a classe C. Uma coisa de cada vez.

 

DINHEIRO – Qual tipo de produto a empresa vende mais no Brasil?

MURAKAMI – Os produtos mais populares são televisores, micro-ondas, refrigeradores, telefones e fones de ouvido.

 

DINHEIRO – Quais são os planos da empresa no Brasil?

MURAKAMI – Investimos bastante na fábrica de Extrema, em Minas Gerais, no setor de linha branca. Agora, temos planos de expandir esse negócio, ou seja, produzir mais refrigeradores e máquinas de lavar. A imagem da Panasonic na cabeça dos brasileiros ainda é a de uma fabricante de televisores. Mas, como uma empresa global, temos outras linhas e queremos explorar nosso portfólio nesse enorme mercado. A ideia é crescer na linha branca. Além disso, como os eventos esportivos – Copa do Mundo e Olimpíada – estão atraindo olhares para o Brasil, vamos trazer mais produtos Business to Business (B2B).

 

DINHEIRO – Como explorar a oportunidade do mercado B2B?

MURAKAMI – Como a Panasonic é patrocinadora oficial da Olimpíada, temos a vantagem de poder vender mais produtos para empresas. São câmeras de segurança e de vídeo, televisores de grandes polegadas, tablets e computadores.

 

DINHEIRO – Os recursos para os investimentos feitos no Brasil vieram da matriz ou a Panasonic pegou dinheiro emprestado com o BNDES?

MURAKAMI – O dinheiro veio basicamente da nossa matriz, no Japão.

 

DINHEIRO – O sr. tem planos de investir em mais uma fábrica no Brasil?

MURAKAMI – Neste momento, não.

 

DINHEIRO – E no futuro?

MURAKAMI – No futuro, a situação pode mudar, mas não posso dizer se haverá ou não novos investimentos. É difícil dizer. Se os negócios crescerem rápido, teremos de pensar nisso.

 

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Fábrica da Panasonic na Zona Franca de Manaus

 

DINHEIRO – O sr. está otimista com o Brasil?

MURAKAMI – (risos) Eu quero ser otimista. No curto prazo, neste momento, estamos tendo dificuldades em relação ao crescimento da economia. Mas este país tem um grande potencial, então devo dizer que estou muito otimista.

 

DINHEIRO – Que tipo de problema econômico o Brasil precisa resolver?

MURAKAMI – Nós esperamos mais estabilidade na economia.

 

DINHEIRO – O sr. acha que a economia está instável?

MURAKAMI – Neste momento?

 

DINHEIRO – Isso. 

MURAKAMI - Sim. Nós temos algumas dificuldades como a flutuação do câmbio e a taxa de juros que tem continuado a subir.

 

DINHEIRO – A alta do dólar afeta a Panasonic?

MURAKAMI – Sim. A flutuação do câmbio afeta o custo, pois temos de importar componentes de outros países. Então, o dólar alto é um problema.

 

DINHEIRO – E a inflação?

MURAKAMI – A inflação também é um problema. Se o custo do produto cresce, o gasto dos consumidores cai. A maioria das empresas está na mesma situação. Isso não afeta apenas a Panasonic.

 

DINHEIRO – Alguns empresários dizem que 2014 é um ano perdido para o Brasil, porque é um ano de Carnaval, Copa do Mundo e eleições. O sr. concorda?

MURAKAMI – Eu não sei (risos). A Copa do Mundo pode ser boa para nós, mas ainda não posso dizer, porque não vi os resultados. Mas, em princípio, nossos negócios não são prejudicados.

 

DINHEIRO – A Copa do Mundo é boa para a venda de televisores…

MURAKAMI – Exatamente. É claro que, se a Seleção Brasileira ganhar os jogos, vai gerar um impacto ainda mais positivo para os brasileiros e isso é bom para nós.

 

DINHEIRO – O sr. acha que o risco de racionamento e o preço alto da energia podem afetar os negócios da empresa no Brasil?

MURAKAMI – Nós temos uma tecnologia única de controle de energia instalado em nossos produtos. Nossos refrigeradores podem economizar mais energia, comparados com os dos nossos concorrentes. Então, se o custo da energia está se tornando um problema, temos mais chances de vender os nossos produtos.

 

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Dilma Rousseff em anúncio da redução do preço da energia em 2013

 

DINHEIRO – Mas, para a produção da Panasonic, que utiliza energia, essa questão não preocupa?

MURAKAMI – Com certeza. Consu­mimos energia em nossas fábricas e isso é um risco. Se o custo sobe, temos de reduzir o consumo ou absorver esse custo. Por isso, um esforço de administração é necessário para lidar com essa situação. É a mesma coisa com a inflação e a alta do dólar, que temos de absorver o custo.

 

DINHEIRO – O governo quer estender por mais 50 anos os benefícios da Zona Franca de Manaus, onde a Panasonic tem negócios. Qual é a sua opinião?

MURAKAMI – Estamos produzindo lá há mais de 30 anos. Então, é claro que queremos que esse benefício seja estendido.

 

DINHEIRO – Qual é a importância da Zona Franca de Manaus para a Panasonic?

MURAKAMI – Algumas categorias de produtos são beneficiadas pela isenção fiscal da Zona Franca de Manaus. Se produzíssemos em outra área, não teríamos essas vantagens. As isenções da Zona Franca de Manaus são indispensáveis para nós, pois concentramos lá toda a produção de televisores. Assim como toda a fabricação de produtos digitais, como câmeras, fones de ouvido e microondas. Esse tipo de benefício só é dado lá.

 

DINHEIRO – O governo tem sido criticado por empresários por mudar as regras do jogo da economia. O sr. concorda com isso? O sr. tem alguma reclamação a fazer?

MURAKAMI – Acho que é uma crítica compreensível. Mas não há reclamação. É assim que as coisas funcionam no Brasil. Temos que aceitar.

 

DINHEIRO – No mercado internacional, o México passou o Brasil como queridinho da vez para os investidores. O sr. concorda com essa mudança?

MURAKAMI – O México é integrante do Nafta (bloco comercial que inclui os Estados Unidos e o Canadá), o que lhe garante um grande mercado por trás. Por isso, é compreensível que os investidores olhem para o México com atenção. O Brasil é parte do Mercosul, que é menor e tem um modelo de negócios diferente. O México pode ser base de exportação, já o Brasil é limitado no comércio exterior.

 

DINHEIRO – Então o México é mais atrativo do que o Brasil?

MURAKAMI – Depende. O Brasil é muito atraente em termos do potencial bruto do País. Já o México pode ser atraente por outras razões.

 

DINHEIRO – A falta de infraestrutura logística no Brasil é um problema para a Panasonic?

MURAKAMI – Não digo que a logística ruim seja um problema, mas é diferente de outros países. O Brasil é muito grande, o que dificulta o transporte.

 

DINHEIRO – O sr. vai torcer pelo Japão ou pelo Brasil na Copa do Mundo?

MURAKAMI – (risos) Pessoalmente, quero que o Japão vença. Mas, como presidente da Panasonic do Brasil, quero que o Brasil ganhe. Um título mundial estimularia a economia aqui.