Tudo começou como começavam as coisas para os milionários nos glamourosos anos 50. Joaquim Monteiro de Carvalho, o Baby, conheceu Frederic Chandon na Côte d?Azur. O primeiro, carioca, herdeiro de um dos grandes conglomerados industriais brasileiros da época, amigo de infância de Jorginho Guinle e sócio-fundador da turminha galante que flanava pela piscina do Copacabana Palace. O segundo, francês, conde e acionista de uma das mais prestigiosas maisons de Champagne, a Moët & Chandon. Muitas férias mediterrâneas depois, Baby trouxe Fred para visitar o Rio. O nobre ficou encantado, e na falta de motivo para voltar sempre, produziu um: decidiu fabricar vinho em nossas terras tropicais. Fred e Baby viraram sócios na vinícola Chandon, em Garibaldi (RS). Era 1977, mas só agora a Chandon começa a desfrutar de um prestígio digno da finesse de Baby e Fred.

 

Os dois, no entanto, vão acompanhar essa reviravolta de camarote. Quem está no comando é a Louis Vuitton, Moët, Henessy ? a poderosa LVMH, maior grupo mundial do luxo, que fatura US$ 12 bilhões anuais com grifes como Dior, Tag Heuer, Givenchy, Louis Vuitton e outras. Em 1987, esse colosso comprou a Moët & Chandon e, anos depois, a parte dos Monteiro de Carvalho na Chandon do Brasil, dando início ao que internamente se chamou petit grand revolution. Ou seja: transformar a Chandon na primeira marca de alto luxo brasileira. ?O produto é excepcional. Foi medalha de ouro no Vinalie Internacional?, diz Laurent Boidevézi, diretor-geral da subsidiária nacional da LVMH Vinhos e Destilados, citando o importante concurso parisiense de vinhos. ?O problema é que a marca está aquém da qualidade. Mas já estamos cuidando disso?, completa, com um sorriso maroto.

Explique-se o sorriso maroto: o executivo tem à sua disposição a estrutura, a experiência e principalmente o dinheiro que fazem das bebidas da LVMH as mais chiques do planeta. Grifes como Henessy (conhaque), Veuve Clicquot, Krug, Dom Pérignon e Moët & Chandon (champanhes). É nessa constelação ? de receita anual superior a US$ 2 bilhões ? que a Chandon também vai brilhar, promete Boidevézi. A marca tem 25% de participação no mercado brasileiro de espumantes, que é de 7 milhões de garrafas ao ano. Para crescer, o executivo comanda um trabalho de marketing que está consumindo R$ 10 milhões ao ano. Logotipo reestilizado, campanhas publicitárias emocionais, preço 15% maior, pontos de venda mais selecionados (como duty free dos aeroportos) e muitas festas regadas a Chandon. Em breve, será lançada uma série numerada de 1.973 garrafas da versão Excellence do espumante. Cada uma custará R$ 99 (três vezes mais do que o normal) e a número 1 irá para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A idéia é repetir nas altas rodas o burburinho causado pelos presentes que a empresa distribuiu a poucos vips no Natal: para as damas, carteira de couro legítimo; para os cavalheiros, gravata de seda italiana ? ambas criações do estilista Ocimar Versolato ?par Chandon?. Na mesma época, chegou ao mercado a Baby Chandon, uma charmosa garrafinha de 250 ml que aos poucos vem tomando o lugar das sodas tipo Smirnoff Ice nas casas noturnas. Custa R$ 15.

Alegria. ?Mas nada disso não surtiria efeito se eles não tivessem um senhor produto nas mãos?, avalia Arthur de Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers. ?Os espumantes da Chandon se igualam a alguns champanhes.? Conde Fred já desconfiava disso nos anos 70. Mas o que pesou mesmo na hora de fundar a Chandon foi a prazerosa obrigação de visitar o Brasil todos os anos. Até apartamento na avenida Vieira Souto, no Rio, ele comprou. ?Na verdade, a Chandon sempre nos deu mais alegria do que dividendos?, revela Olavo Monteiro de Carvalho, sobrinho de Baby. ?Com o Fred afastado, resolvi trocar a nossa participação na empresa por ações da LVMH na Europa.? As boas amizades, porém, continuam. Carvalho está negociando com Bernard Arnault, presidente mundial da LVMH, a abertura de uma boutique Louis Vuitton no Fashion Mall (Rio de Janeiro), do qual é sócio. ?Por enquanto vou ajudando meus amigos a conseguir Chandon para as suas festas. Eles nunca encontram a garrafinha Baby para comprar e recorrem a mim. Eu resolvo. Virei uma espécie de pistolão da Chandon. Estou me divertindo.?