Como é que a economia foi deixada de lado justamente em seu pior momento? A inflação disparou, alcançando a casa dos dois dígitos. As agências de risco já falam em novo rebaixamento, logo ali na frente. O ajuste fiscal estancou. Não há qualquer mobilização para assegurar ao menos o orçamento do próximo ano. E os números seguem derretendo. A indústria vai recuar quase 18%. O PIB, perto dos 4% negativos. O déficit nominal, da ordem de inacreditáveis 10,5%. A apatia está por todos os lados. Projetos de investimentos engavetados. Fechamento de fábricas. Escalada do desemprego.

Comércio com vendas pífias. E nada disso está na pauta de prioridades dos políticos de plantão. Abandonaram o assunto. No momento, se engalfinham pela defesa de interesses pessoais. Enquanto isso, o descrédito e a desconfiança de empresários nas decisões dessa turma só aumentam. A torcida geral é pelo rápido afastamento de Dilma da presidência. Só assim, acreditam, pode haver uma reviravolta de expectativas. É o sentimento predominante diante do ciclo de retrocessos que foi aplicado ao longo dos últimos anos. Não há mais apostas de que a mandatária seja capaz de tirar a economia do buraco.

Enxergam nela uma falta de disposição e apoio para elaborar um projeto de recuperação. Decerto, Dilma tem muito pouco a oferecer à iniciativa privada com os fundamentos estatizantes que o seu partido prega. Refém dos conselhos de Lula e de equívocos em cascata, ela aprofunda o cenário recessivo. Praticamente não fez cortes na máquina. Aqueles que ela chegou a anunciar ainda estão por ser implementados. Em contrapartida, gastando cada vez mais que arrecada, seu governo enveredou pela alternativa do aumento da cobrança de impostos. Quem aguenta? A CPMF seria um desatino. Ainda mais com o destino certo que teria: o de cobrir um caixa impagável.

Numa manobra para aplacar, temporariamente, os ataques contra o plano de contenção do ministro Levy, Lula pediu uma “trégua” aos movimentos sociais. Para ele, a prioridade agora é barrar o impeachment. Depois dará o sinal verde para a volta da gritaria e, consequente, desestabilização do que resta de sensatez na equipe de Dilma. A economia neste compasso vive o pior dos mundos. Os empreendedores querem um ambiente estável para a volta dos negócios e estão cada vez mais convencidos que isso só irá acontecer a partir de uma mudança completa de direção.

(Nota publicada na Edição 946 da Revista Dinheiro)