08/05/2002 - 7:00
Há quanto tempo você não vê no almoxarifado de sua empresa uma fita para máquina de escrever? Há quanto tempo não compra uma caixa de papel-carbono? Que futuro esperar, então, de uma companhia brasileira, familiar, que até alguns anos atrás tinha como principais produtos justamente estes dois itens. Eis a Helios Carbex dos anos 80. Em poucas palavras, tinha tudo para dar errado. Não deu. A empresa se reinventou nos anos 90. Partiu para novos mercados, contratou profissonais para dividirem
a administração com representantes dos fundadores ? o clã Sacchi ?, modernizou a linha de produção em São Paulo, investiu pesado em marketing. Hoje, disputa espaço com multinacionais como Bic, Gillette, Sony, Maxwell, 3M e Henkel, nos mais diversos segmentos: dos produtos escolares e de escritório a acessórios de informática. ?Nós estamos sempre em mutação?, diz Sérgio Sacchi, 34 anos, presidente do grupo. No segundo semestre, a Helios inaugura fábrica em Manaus. Até o final deste ano, entra em novos nichos. Vai estrear no setor de brinquedos, provavelmente na linha dos educativos. ?Estamos conversando com grandes fabricantes?, afirma Sacchi, sem revelar detalhes.
A guinada da Helios aconteceu no final dos anos 80,
quando a empresa decidiu ingressar no setor que ameaçava
devorá-la: o de informática. Passou a produzir periféricos como cartuchos, disquetes e refis de tinta para impressoras, entre outros. Entrou num campo dominado por grandes como a Verbatin e Maxwell e se deu bem. Hoje, a área de informática, somada aos demais produtos de escritório, responde por 70% do faturamento de R$ 85 milhões da empresa. ?O desafio agora é aumentar os canais de distribuição?, diz Sacchi. Está em curso uma parceria com as redes de cine-foto-som que, além de receberem toda a linha de informática, terão um novo produto da empresa: papéis para impressão fotográfica. Há no Brasil 37 mil pontos de venda nesse modelo cine-foto-som. ?Se atingirmos 20% do novo canal dobraremos o número de distribuidores?, calcula Sacchi.
De todas as apostas, no entanto, a mais promissora é a recém-criada divisão de automação. Produz um item batizado de Thermal Transfer Ribbon (TTR). São fitas de transferência térmica usadas para impressão de códigos de barra. O TTR abre um leque enorme de oportunidades. Simplesmente por ser usado em tudo o que se possa imaginar, de enlatados a roupas, passando por brinquedos, calçados, etc. A Helios Carbex é a primeira a produzir localmente. Até aqui, o produto era importado. ?Com a fabricação local nós teremos preços mais competitivos?, diz José Paulo Buzetti, gerente de marketing. A empresa estreou no setor em 2000 e em um ano conquistou 400 clientes. Não à toa, a japonesa Sony ? dona de uma unidade que produz tais fitas ? passou a estudar a instalação de uma fábrica no Brasil.
Criatividade é palavra de ordem dentro da companhia brasileira. Foi assim quando a venda de máquinas de escrever começou a despencar. A Helios passou então a produzir fitas para impressoras matriciais. No caso do papel-carbono, a saída foi concentrar esforços em pequenos escritórios de contabilidade, escolas modestas e órgãos públicos de cidades do Interior. Até no exterior a Helios investiu. Vende para Jordânia, Paquistão e boa parte da América Latina. ?São países que ainda estão longe de ter um nível bom de informatização. E o carbono ainda é bem mais barato do que uma impressora?, explica Sacchi. Na linha escolar, o senso de oportunidade também se fez presente. Para competir com gigantes como Bic a empresa brasileira desenvolveu o primeiro corretivo líquido do mercado. A linha Toque Mágico vendeu como água e a concorrência foi obrigada a seguir os passos da Helios.
A entrada no setor de brinquedos obedece à mesma filosofia.
Para evitar a sazonalidade da venda de material escolar, a
empresa pretende criar atrativos que dêem às crianças vontade de consumir os produtos mesmo fora da sala de aula. ?É nesse
ponto que entram os brinquedos. Num primeiro momento eles poderão ser vendidos com os produtos escolares?, revela Sacchi. Depois, com a marca já consolidada, a idéia é transformá-los em mais uma linha independente.