Aestréia da Bovespa Holdings no mercado acionário deixou muitos investidores com água na boca. Cada R$ 1 mil investidos no lançamento, em 25 de outubro, valiam R$ 1.556,52 na terça-feira 13. Quem perdeu essa chance deve estar se lamentando e sonhando com o próximo negócio do Brasil ? antigamente, dizia-se da China. Será que as ações da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que debutam no dia 30 de novembro, terão o mesmo sucesso retumbante que as da Bovespa? O período de reservas começa nesta segunda 19 e vai até o próximo dia 27. Você tem, portanto, pouco tempo para tomar uma decisão.

Cada investidor individual poderá pedir reserva de compra entre R$ 5 mil e R$ 300 mil. Antes de falar com algum amigo empolgado e consultar seu gerente do banco ou corretor, leia atentamente o prospecto da oferta. Na internet, está disponível para download nos sites da BM&F, dos bancos coordenadores (Bradesco BBI, Itaú BBA, JP Morgan, Merrill Lynch e Morgan Stanley) e das dezenas de corretoras envolvidas. São 424 páginas de informações sobre a companhia. Se ficar com sono, tome um bom café ou descanse, mas não desista. História, atividades, números, riscos envolvidos ? tudo o que você precisa saber antes de investir está lá. Muitos novatos da bolsa de valores pulam esse calvário informativo e se arrependem depois se a ação não tem um bom desempenho, o que é mais comum do que parece nos IPOs. Um bom prospecto não é garantia de nada após a estréia no mercado de ações, mas dá uma boa noção dos riscos aos quais o seu dinheiro estará sujeito. E a BM&F, antes de tudo, é o templo do risco. Ou melhor, da gestão do risco.

Quem tem motivos para se proteger da variação das taxas de juro, do câmbio e de commodities como café e algodão encontra, na BM&F, contratos que permitem a compra ou a venda desses ativos em datas futuras e a preços preestabelecidos. São os chamados derivativos. Empresas, bancos, fundos de investimento e investidores individuais são os principais clientes da BM&F. É uma bolsa que, como a Bovespa, sobrevive das taxas cobradas em cada operação ali fechada ou registrada. E os negócios vão de vento em popa. Este ano, a média diária de contratos já cresceu 61% em relação a 2006. As receitas operacionais somaram R$ 430 milhões até setembro. E o lucro líquido foi de R$ 222 milhões. Em número de contratos negociados, a BM&F ostenta a posição de quarta maior bolsa de futuros do mundo, atrás apenas da Chicago Mercantile Exchange (CME), da Eurex Deutscheland e da Euronext. É parte desse patrimônio que estará à venda aos futuros acionistas no IPO.

O preço final da ação ainda não está fechado. Os bancos coordenadores estão negociando com os investidores potenciais. Pelo menos 80% da oferta de 260 milhões de ações está reservada aos grandes investidores institucionais nacionais e estrangeiros. As pessoas físicas levarão até 20%. O preço de referência, se for mantido (existe a possibilidade de aumento), é de R$ 14,50 a R$ 16,50 por ação (a da Bovespa ficou em R$ 23 no lançamento). Se ficar na média, as corretoras donas da BM&F irão captar R$ 4 bilhões. Se sair no teto, a operação sobe para R$ 4,9 bilhões. Um indicativo do sucesso do IPO, segundo analistas, foi a entrada recente de dois investidores estratégicos na companhia. A CME, maior bolsa de derivativos do mundo, comprou 10% da BM&F por R$ 1,3 bilhão, pagos em ações (a brasileira terá 2% da americana). E a General Atlantic investiu R$ 1 bilhão por outros 10%. Outros estrangeiros de peso virão no IPO. ?A BM&F tem uma visibilidade muito grande lá fora. É mais menina-dos-olhos para os estrangeiros do que a Bovespa?, diz Thiago de Castro, da TAG Investimentos. ?Vai ser mais um case de sucesso na bolsa?, prevê. Dentre os fatores de risco ? atente à seção que começa à página 71 do prospecto ? está a ação judicial movida pelo ex-megainvestidor Naji Nahas, que quer receber R$ 10 bilhões da Bovespa e da BM&F devido às perdas que teve no mercado em 1989. O valor total dos processos com perda possível e provável, segundo a avaliação da companhia e de seus advogados, era de R$ 41,6 milhões, dos quais R$ 26,6 milhões foram provisionados. A BM&F também responde a quatro processos movidos pela TOV Corretora e a nove ações de indenização do erário público pelos prejuízos do caso Marka/Fonte- Cindam quando da desvalorização do real, em 1999. Mas avalia que as chances de perda, nesses casos específicos, são remotas. A conferir.