25/02/2009 - 7:00
APOSTA CRIATIVA: sucesso do negócio, segundo o presidente Portlock, se deve ao investimento em design
EM MEADOS DE 1972, O ENXADRISTA
soviético Boris Spassky se recusou a continuar na maratona de jogos que disputava contra o americano Bobby Fischer enquanto a organização do evento não conseguisse uma cadeira Eames Executive igual à de seu oponente. O torneio, que definiria o novo campeão mundial de xadrez, foi suspenso por um dia. Tempo suficiente para que a americana Herman Miller enviasse, de avião, a peça para a cidade de Reykjavik (Islândia), local onde era realizado o campeonato. Felizmente para os americanos, Fischer venceu a parada, interrompendo o domínio de décadas dos soviéticos neste esporte. Essa é apenas uma das muitas histórias que ajudaram a construir a mística em torno das cadeiras da grife. Não é exagero dizer que a Herman Miller conseguiu transformar o corriqueiro ato de sentar em uma verdadeira experiência que conjuga luxo, bem-estar e um desenho inovador. Cada uma delas é feita com materiais selecionados e é testada por uma equipe multidisciplinar que inclui engenheiros, designers e especialistas em ergonomia. Esse processo consome cerca de três anos desde a concepção até o início da produção em escala comercial de um modelo top de linha, como o usado por Fischer. O investimento em um exemplar deste tipo chega a US$ 12 milhões. Tamanho cuidado fez com que a Herman Miller se tornasse a preferida de celebridades, como Wood Allen e Jô Soares, e chefes de Estado, como o papa João Paulo II, além de altos executivos de nove entre dez grandes corporações.
Versatilidade premiada desenhada por William Stumpf, a cadeira possui uma concepção ergonômica que se adapta a todos os tipos de usuário. A peça foi premiada como o design da década de 1990 pela Sociedade Americana de Design.
Mais que um ícone do setor de mobiliário profissional, a Herman Miller é uma plataforma de negócios estruturada para ser bem-sucedida desde que foi fundada, em 1923, pelo americano Dirk Jan De Pree – mais conhecido como D.J. Por influência do sogro e sócio, que empresta o nome à empresa, D.J. resolveu apostar em móveis diferenciados e feitos para durar em uma época em que boa parte dos concorrentes tinha em mente custos baixos e produção em série. Para isso selecionou os melhores carpinteiros de Zeeland (Michigan-EUA) e passou a atuar apenas com matéria-prima de qualidade. Hoje, sua sede está situada às margens de um bucólico lago na mesma cidade. E é nessa atmosfera que os engenheiros e os demais profissionais colocam em prática os desenhos apresentados por artistas contratados em todas as partes do mundo. “Preferimos entregar a criação para profissionais independentes porque eles vivem no mundo real e não são sujeitos às inibições típicas de um funcionário fixo”, disse à DINHEIRO John Portlock, presidente mundial da Herman Miller, durante sua visita ao Brasil na semana passada. A lista dos designers que integram o portfólio da companhia inclui William Stumpf (criador da Aeron), a dupla Charles e Ray Eames, autores da primeira cadeira plástica a se tornar ícone do setor, e Jeff Weber, que assina a recém-lançada Embody. Ela nasce com a ambição de substituir a Aeron Office, um dos maiores sucessos da trajetória da companhia.
Plástico criativo a dupla Charles e Ray Eames utilizou o conceito de “mais com menos” para desenhar a primeira cadeira de plástico produzida em série, em 1948.
O elevado investimento em design e na concepção das cadeiras, além da escolha de materiais nobres e ambientalmente corretos, credenciou a empresa a disputar a faixa mais alta da pirâmide de consumo. Uma peça da grife chega a custar US$ 3 mil no varejo. E isso tem impacto diretamente na boca do caixa. No balanço do ano fiscal 2008, encerrado em 31 de março, a companhia obteve receita de US$ 2,01 bilhões e um lucro líquido de US$ 129 milhões. Uma elevação de 4,9% e 18%, respectivamente, ante o período anterior. Os produtos fazem sucesso também no mundo universitário e das artes. Desde a década de 1940, o catálogo da Herman Miller vem conquistando importantes prêmios de design internacional. As peças foram expostas no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, e muitas delas se tornaram integrantes do acervo permanente da instituição.
Inspiração no beisebol A luva usada pelos jogadores de beisebol serviu de mote para a versão de lounge chair de Eames. A peça foi incorporada ao acervo do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York.
Apesar de as cadeiras serem a parte mais visível do portfólio da Herman Miller, ela também revolucionou no segmento de móveis de escritório. Foi da prancheta do design Robert Propst que surgiu, em 1968, a primeira estação de trabalho. Batizada de Action Office, ela moldou a forma de trabalhar em escritórios e catapultou as receitas da Herman Miller para a casa do bilhão de dólares.
Ícone do bem-estar considerada a sucessora da Aeron, essa cadeira foi projetada para proporcionar equilíbrio ao corpo e à mente. Custa cerca de US$ 3 mil e 95% de suas peças são recicláveis.
Hoje, os módulos imitando colmeia podem ser vistos em cerca de nove entre dez grandes empresas.