11/07/2023 - 11:44
Rankings têm a capacidade de ser tão assertivos quanto injustos. Ainda assim, funcionam para apontar tendências do mercado. É nessa óptica que deve ser lido um dos mais renomados deles quando se trata de empresas inovadoras — o levantamento Most Innovative Companies 2023 —, feito desde 2005 pelo Boston Consulting Group (BCG). Mais uma vez a americana Apple ficou à frente, o que aconteceu todos os anos, menos em 2019, quando foi superada por Alphabet (Google) e Amazon.
O BCG ouviu entre dezembro-22 e janeiro-23 executivos de mais de 1 mil empresas do mundo todo, dos mais diversos segmentos, e agrupou as respostas em quatro dimensões:
a) Global Mindshare (número de votos recebidos de todos os executivos);
b) Visão dos Pares (votos recebidos de executivos do próprio setor);
c) Disrupção da Indústria (Índice de Diversidade de votos em todos os setores);
d) Criação de Valor (retorno total do acionista entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022).
As lições do relatório podem ser resumidas nos indicadores que mostram a preocupação com investimentos na área de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).
Quatro em cada cinco líderes ouvidos (79%) disseram que P&D está entre as três maiores prioridades de suas organizações. O percentual é o maior desde o começo da pandemia, em 2020, e se aproxima do melhor resultado da série histórica, que foi de 82% em 2019.
Outra leitura obrigatória nas respostas foi o percentual de executivos que afirmaram ter ampliado neste ano os investimentos em P&D em face a desafios macroeconômicos.
Para 16%, os incrementos ficaram 30% superiores aos do último exercício. Outros dois terços citaram aumentos no orçamento entre 11% e 30%. Apenas uma minoria (11%) decidiu por altas corretivas (5% a 10%) ou manter o budget (7%). Ínfimos 3% declaram ter reduzido o dinheiro em P&D.
A despeito de o relatório ser dominado por empresas de tecnologia — sete das dez primeiras colocações —, o Most Innovative Companies 2023 enfatiza justamente as companhias que fazem da área de P&D peça central de sua cultura organizacional.
Nesse campo, a alemã Bosch é destacada no documento. De seus 421 mil empregados (dezembro de 2022), estavam em Pesquisa & Desenvolvimento 85,5 mil (20%), sendo que 44 mil são engenheiros de software (mais de 10% do total de colaboradores).
“Queremos ajudar a construir o mundo de amanhã com tecnologias inventadas para a vida”, afirmou o chairman da companhia, Stefan Hartung, na divulgação dos resultados de 2022.
Pioneiras na lista
Outro ponto que chamou a atenção da equipe de especialistas que conduziu o estudo do BCG foi que, diferentemente de outros momentos de crise global, como a estampada no relatório de 2009 e que refletia o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, isso não se repete com o cenário econômico global desafiador de agora.
Há 15 anos, 64% das empresas diziam que a área de P&D estava em as três maiores prioridades de suas respectivas companhias. Este ano, 79% responderam afirmativamente à questão, um salto de 15 pontos.
Entre as 50 empresas consideradas as mais inovadoras, nove entraram na lista pela primeira vez — pela ordem do ranking, BioNTech, Schneider Electric, Honeywell, Sinopec, Glencore, Stripe, Saudi Aramco, Petrochina e NTT, cuja operação no Brasil é comandada pelo executivo Ricardo Neves e dobrou de tamanho desde a pandemia.
Por fim, como não poderia deixar de ser, o tema da inteligência artificial (IA) também foi abordado.
Para os aurores que assinam o Most Innovative Companies 2023, “a questão não é se a IA pode ter impacto nas empresas, a questão é se as empresas já estão implementando IA para impulsionar o valor de seus negócios”.
Entre os mais de 1 mil executivos ouvidos, as soluções de IA disparam na liderança de segmentos tecnológicos que mais recebem atenção e investimentos atualmente, com 61% de respostas afirmativas.
Ela é seguida por robótica & processos de automação (46%), internet das coisas (44%), blockchain (29%) junto de interações homem-máquina (também 29%) e fechando o top 5 o mundo da realidade aumentada-realidade virtual (27%).
“Para alcançar o impacto de forma responsável, soluções de IA precisam de apoio das altas lideranças e recursos [humanos e materiais] adequados, o que requer tempo e dinheiro, mas que dado seu caráter transformacional valem o esforço”, afirmam os autores do relatório.