08/06/2005 - 7:00
Pouco afeitos a manifestações de alegria, os alemães da Bavária estão eufóricos com o Allianz Arena, o estádio de futebol que abrigará a abertura da Copa de 2006. Não fizeram apenas uma, mas quatro inaugurações do templo esportivo. Na quinta-feira, 2, o jogo entre as equipes do TSV 1860 e o Bayern de Munique terminou com um placar magro (1 a 0 para o 1860). O resultado no campo foi mero detalhe. Havia olhos apenas para os três pavimentos de cadeiras numeradas, a beleza da cobertura e a elegância do edifício. A inauguração é uma espécie de prólogo do mundial e suas promessas econômicas. “Calculamos um impacto de 8 bilhões de euros à nossa economia em um prazo de 5 anos”, disse Otto Wiesheu, ministro da economia da Bavária à DINHEIRO. Paul Breitner, campeão mundial em 1974, lenda da bola, ri como um latino. “Como dizem que Deus é brasileiro, agora que o Papa é alemão isso pode aproximar nossos países ainda mais”, brinca. O ex-jogador, hoje um dos embaixadores da Copa, espera 15 mil brasileiros no próximo ano. E torce: “Tomara que vocês tenham a sorte de jogar no Allianz?, diz. ?É um estádio que nos orgulha muito”.
O Allianz, erguido a US$ 320 milhões, é um edifício de ópera destinado ao futebol. As paredes são feitas de um material pneumático e inflável. Nas partidas do Bayern, como um abajur, ele aparecerá vermelho, graças a um engenhoso sistema de iluminação. Nas disputas do 1860, a outra equipe da metrópole da Bavária, atualmente na segunda divisão, brilhará em azul. Nos desafios da seleção alemã, e na abertura da Copa, em 9 de junho do ano que vem, estará eletronicamente vestido de branco. As duas equipes e a federação nacional, a Bundesliga, administrarão as instalações. A empresa de seguros que batiza a arena pagou US$ 88 milhões para garantir o nome na fachada até 2021, parceria que evidentemente gerou polêmica dos inimigos da privatização selvagem. Os arquitetos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron tentaram fazê-lo semelhante a um diamante translúcido e ovalado, segundo o texto de aprovação do projeto. Os fãs de futebol, menos poéticos, encontraram outros apelidos ao desenho insólito: bóia salva-vidas (Schwimmreifen) e barco de borracha (Schlauchboot). De um modo ou outro, é espantoso por fora e luxuoso por dentro, com restaurantes, camarotes, banheiros impecáveis e tecnologia embarcada, além de assentos para 66 mil pessoas devidamente cobertas por um teto translúcido, feito de uma resina plástica inofensiva ao meio ambiente.
A construção do Allianz põe fim à história de uma das grandes obras de arquitetura da segunda metade do Século XX, o Estádio Olímpico de Munique, erguido para as Olimpíadas de 1972 e palco da final da Copa do Mundo de 1974. A cobertura de acrílico preso a uma rede de cabos de aço, paradoxalmente leve, com os traços de uma aranha benigna, era o contraponto dos arquitetos Günter Behnisch e Frei Otto às estruturas pesadas e rígidas do Estádio Olímpico de Berlim desenhado pelos nazistas para os Jogos de 1936. A obra de Munique, o monumento à modernidade agora transformado na mais bela ruína do mundo, era para muitos o sinônimo da nova Alemanha, uma república transparente e democrática. Há planos, agora, de instalar ali um monumental cinema a céu aberto – ainda que ele continue a ser utilizado em provas de atletismo. O desafio do estádio inaugurado na semana passada é imenso como seu tamanho: apagar da memória um marco do esporte e da arquitetura, parada obrigatória de todos os passeios turísticos organizados em Munique. Não será missão fácil.
US$ 320 milhões foi o custo de construção. A seguradora Allianz pagou US$ 88 milhões para ter seu nome na fachada até 2021