10/01/2021 - 7:44
Estados Unidos inaugura, neste domingo (10), uma representação no Saara Ocidental, última ex-colônia africana sem situação resolvida, reivindicada pelo Marrocos e pelos independentistas da Frente Polisário, anunciaram fontes diplomáticas.
O papel e a situação exata desse escritório serão detalhados hoje, de acordo com a embaixada dos americana.
A representação ficará instalada em Dakhla, um porto pesqueiro no sul do Saara Ocidental, destinado a se tornar um “centro marítimo regional” para a África e as Ilhas Canárias, graças a um colossal projeto lançado por Rabat.
A iniciativa, organizada nos últimos dias do mandato do presidente Donald Trump, vai contra a posição das Nações Unidas, que considera o Saara Ocidental um território autônomo enquanto aguarda o seu status definitivo.
O vice-secretário de Estado para o Oriente Médio e Norte da África, David Schenker – que iniciou uma “visita histórica” ao Saara Ocidental no sábado, desembarcando em Laayoune, a capital regional – presidirá o evento, segundo a embaixada americana em Marrocos.
Este gesto diplomático simbólico deriva do acordo assinado em 22 de dezembro entre americanos, israelenses e marroquinos, para a normalização diplomática entre Marrocos e Israel, com o reconhecimento de Washington da soberania de Rabat sobre o Saara Ocidental.
E acontece quando as negociações políticas da ONU neste território desértico, no norte da Mauritânia, estão paralisadas há décadas.
Marrocos, que controla cerca de dois terços desse território, quer uma “autonomia sob controle”. A Frente Polisário, apoiada pela vizinha Argélia, milita pela independência e pede um referendo sobre a autodeterminação, planejado pela ONU.
Com Trump prestes a deixar a Casa Branca, suas equipes aceleraram o cumprimento do acordo, tornando Marrocos o quarto país a normalizar as relações com Israel, depois dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão, ao mesmo tempo em que legitima sua presença no Saara Ocidental.
“Reconhecendo a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental, o presidente Trump rejeitou o status quo fracassado que não beneficiou ninguém e apresentou uma solução duradoura e mutuamente aceitável no caminho”, estimou Jared Kushner, conselheiro e genro de Trump, a bordo do primeiro voo comercial entre Tel Aviv e Rabat.
O acordo prevê a abertura de um “consulado” dos EUA em Dakhla e inclui um investimento de US$ 3 bilhões, desbloqueado pelo Banco de Desenvolvimento dos Estados Unidos (DFC) para “apoio financeiro e técnico a projetos de investimento privado” no Marrocos e na África subsaariana.
Além da parte financeira, Marrocos considera que a validação dos Estados Unidos do “seu Saara” é “um avanço diplomático histórico”.
A Frente Polisário rompeu em novembro um cessar-fogo assinado em 1991 sob mediação da ONU, depois que Marrocos posicionou suas tropas em uma zona desmilitarizada na fronteira com a Mauritânia, com o objetivo de garantir a “segurança” na única estrada para a África Ocidental, muitas vezes cortada pelos independentistas.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda não fez comentários sobre a questão do Saara Ocidental.