A Ômicron, cientificamente denominada B.1.1.529, que foi identificada pela primeira vez em 9 de novembro na África do Sul, foi, inicialmente, caraterizada como uma estirpe “preocupante” pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por poder ser altamente transmissível e provocar um “risco acrescido de reinfecção”.

Com o passar do tempo, foi percebendo que, além de ser mais transmissível do que as anteriores, a Ômicron alterou também o tipo de sintomas, que pareciam ser mais leves e confundidos com uma constipação normal. Apesar de terem passado alguns meses desde a sua descoberta, os cientistas continuam tentando descobrir a origem e evolução desta variante, presente em mais de 100 países, que é muito diferente de estirpes anteriores como a Alpha e a Delta.

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Acredita-se que a Ômicron se espalhou da província de Gauteng, entre Joanesburgo e Pretória, na África do Sul, para outras províncias e para o Botswana. Mas tendo em conta que é em Joanesburgo que fica o maior aeroporto do continente africano, a variante pode ter surgido em qualquer parte do mundo, tendo sido apenas identificada a primeira vez na África do Sul.

Os pesquisadores da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, acreditam que o ancestral genético conhecido mais próximo da Ômicron pode ser já do ano de 2020 e que, por isso, esta variante “surgiu do nada”. De acordo com a equipe, podem ter perdido várias mutações no caminho que deram origem à Ômicron, apesar de terem sido sequenciado milhões de genomas do SARS-CoV-2.

Cientistas explicam que o surgimento de variantes de preocupação ao longo do tempo acontece à medida que o SARS-CoV-2 se replica e é transmitido de pessoa para pessoa, com o surgimento de mudanças aleatórias na sua sequência de RNA. Algumas dessas mudanças vão persistindo, mas com a Ômicron há especialistas que acreditam que a transmissão de pessoa para pessoa não criaria tantas mudanças em tão pouco tempo – pouco mais de um ano e meio – como as que se verificam nesta variante.

Contudo, pesquisadores dizem que é possível, uma vez que esta variante pode ter evoluído numa parte do mundo em que o sequenciamento genético do vírus é limitado e não se testam tanto as pessoas, também por falta de sintomas. Além disso, com as vacinações em curso e reinfecções, outras variantes foram perdendo força, enquanto a Ômicron foi escapando e progredindo.

Outra opção estudada pelos pesquisadores é a de que a variante pode ter desenvolvido várias mutações numa pessoa com infecção crônica. Nessa pessoa, o vírus pode se multiplicar durante semanas ou meses, surgindo diferentes tipos de mutações que evitam a ação do sistema imunológico.

Em dezembro de 2020, foi relatado o caso de um homem de 45 anos que esteve infectado com o SARS-CoV-2 durante cinco meses. Ao longo desse tempo, o vírus acumulou mais de dez alterações de aminoácidos na proteína spike.

Contudo, os especialistas dizem que, até agora, nenhuma pessoa com infecções crônicas, com o sistema imunológico comprometido, estudada até agora teve o número de mutações observadas nesta variante, acrescentando que isso exigiria altas taxas de replicação viral durante muito tempo, o que faria com que a pessoa ficasse cada vez mais doente.

Os pesquisadres sugerem que a Ômicron pode ter surgido a partir de alguém com uma infecção de longo prazo e que, depois, tenha passado algum tempo na população em geral antes de ser detectada, mas ainda há muitas questões sem resposta, tendo em conta esta possibilidade.

Existe ainda a hipótese de a variante ter surgido a partir de ratos, por exemplo, dizem os pesquisadores. Alguns estudos concluíram que, ao contrário de variantes anteriores, a proteína spike da Ômicron pode se ligar à proteína ACE2 de perus, galinhas e camundongos, sendo que uma pesquisa descobriu que a combinação de mutações N501Y–Q498R permite que as variantes se liguem à ACE2 de ratos.

De acordo com a Nature, os pesquisadores acreditam que o vírus tenha adquirido mutações que lhe deram acesso a ratos, tendo evoluído até à Ômicron nessa população animal. Um dos ratos infectados teria entrado em contato com uma pessoa, infectando ela. Há ainda muitas dúvidas também relativas a esta teoria e algum ceticismo, sendo necessário continuar a pesquisar a possibilidade.

Estão a ser estudadas estas três teorias, sendo que uma das possibilidades é que a verdadeira origem da Ômicron possa envolver uma combinação dos três cenários.