No início de março, 16 executivos do BTG Pactual estavam reunidos em Bogotá, na Colômbia, no primeiro dos quatro encontros anuais que reúnem os sócios para traçar a estratégia do banco. Entre todas as apresentações, a que mais chamou a atenção foi a de Ricardo Leiman, que trabalha no escritório londrino do BTG. Ele alertou que o suíço BSI continuava à venda pela seguradora italiana Generali e o negócio ganhara um atrativo. Segundo ele, os italianos assumiriam integralmente todos os eventuais passivos legais que o BSI viesse a ter no futuro por conta, principalmente, de multas aplicadas pelos EUA contra operações de lavagem de dinheiro.

De volta ao Brasil, a cúpula do BTG concluiu que havia uma oportunidade que nenhum concorrente tinha percebido. Era preciso ser rápido. No dia 16 de abril, Marcelo Kalim, o CFO do banco brasileiro, apresentou na sede do BSI, em Lugano, na Suíça, as condições para a compra: se as informações sobre os passivos fossem confirmadas e se o preço anteriormente aventado não tivesse mudado, o BTG assinaria o contrato de exclusividade para analisar os dados e fechar o negócio. Dito e feito. Quatro meses depois, na segunda-feira 14, o presidente André Esteves anunciou a compra do BSI por 1,5 bilhão de francos suíços, cerca de US$ 1,7 bilhão.

A tacada acrescenta cerca de R$ 200 bilhões ao total de ativos geridos pelo banco, duplica seu tamanho nessa área e o transforma em um gigante com R$ 500 bilhões sob administração. “Foi um movimento ligado às nossas origens. Gerimos recursos há 30 anos com grande sucesso e esse acordo reforça a nossa posição nessa área”, explicou o banqueiro carioca à DINHEIRO, ao comentar a transação em teleconferência. No dia seguinte ao anúncio, Esteves fez uma apresentação para os funcionários na sede do BSI em Lugano.

“Tivemos agilidade e não agressividade para fechar o negócio”, afirma Kalim, que nesse período viajou seis vezes para a Suíça. “Soubemos avaliar rapidamente os ganhos com a operação e perceber que o BSI estava presente em locais onde não estávamos.” Para Esteves, as sinergias da fusão são evidentes. No primeiro trimestre de 2014, o BTG amealhou R$ 442 milhões – cerca de 26% de suas receitas – com gestão de recursos e administração de fortunas, atividade conhecida como wealth management. Após a aprovação da compra pelas autoridades suíças, brasileiras e americanas, essas áreas deverão representar 50% das receitas do BTG.

“São atividades rentáveis, que requerem pouco capital próprio e oferecem baixo risco de crédito, além de proporcionarem oportunidades de crescimento a nível global”, afirma Esteves. A ideia é explorar a rede de clientes e contatos do banco suíço para oferecer mais oportunidades de negócio, especialmente para os endinheirados da Ásia e do Oriente Médio. A primeira reação do mercado à aquisição foi boa. Na segunda-feira 14, as ações subiram 1%, ampliando a alta acumulada do ano para 29%, ante uma valorização de cerca de 9% do Ibovespa.

Em relatório divulgado na terça-feira, Tito Labarta, analista do Deutsche Bank em Nova York, manteve a recomendação de compra para as ações do BTG Pactual. Esteves atribui o sucesso da transação às condições de mercado. É uma forma polida de dizer que, ao comprar o BSI, ele também resolveu um problema que atormentava o executivo italiano Mario Greco, presidente da Generali. A seguradora, a maior da Itália, com prêmios de € 66,05 bilhões, havia comprado o BSI em 1998. Para voltar ao lucro, Greco tinha como estratégia vender negócios que não agregavam valor, caso do BSI.

O que afastava os compradores da instituição de 140 anos era o medo das perdas com processos judiciais envolvendo lavagem de dinheiro. Para fechar o negócio, a Generali provisionou cerca de US$ 100 milhões para futuras perdas desse tipo. O pagamento será feito 80% em dinheiro e os 20% restantes em ações do BTG Pactual. Ao destinar quase R$ 4 bilhões para fazer muito mais do que já faz, o banco vai voltar a ser parecido com o que era em 2009, após Esteves recomprar as operações do Pactual que haviam sido vendidas para os suíços do UBS três anos antes. No primeiro ano de sua operação sem o UBS, o BTG – em que as iniciais são a abreviatura de “back to game”, ou “de volta ao jogo”, em inglês – foi basicamente uma grande e rentável tesouraria.

Cerca de 94% de seu faturamento veio das atividades clássicas de banco de atacado. Essa relevância permanece em 2014. Segundo dados da Anbima, associação que representa o setor, o BTG é o maior gestor de recursos sem uma rede de agências, e sexto maior no Brasil, com uma fatia de mercado de 5,2%. O banco também liderou as fusões e aquisições em 2013, intermediando 33 negócios que movimentaram R$ 21,7 bilhões. No ano passado, o BTG ficou em quinto lugar no ranking dos bancos no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, cuja próxima edição vai circular no fim de agosto.