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Ungaro: ?A moda é muito cruel?

No dia 27, quem for à estreia da ópera A Clemência de Tito, no teatro San Carlo di Napole, em Nápolis, na Itália, terá nos figurinos um espetáculo à parte. É que o estilista francês Emanuel Ungaro desenhou as roupas dos personagens. Após uma bem-sucedida carreira de mais de 40 anos no mundo da moda, na qual foi aprendiz de Balenciaga, conhecido nesse universo como ?o estilista dos estilistas?, ele aposentou o dedal e a tesoura. ?Prefiro passar o tempo com a ópera, com o cinema. A moda é muito cruel?, afirmou Ungaro. Sua decepção tem uma explicação. O estilista, hoje com 77 anos, nunca desenhava coleções. Ele trabalhava o tecido diretamente no corpo das manequins. Na moda de hoje, em que a pressão comercial é enorme, há pouco espaço para a ?velha guarda?. Assim como ele, outros estilistas, adeptos de modelitos mais artesanais, como Paco Rabanne, Christian Lacroix, Thierry Mugler e Kenzo Takada, venderam suas marcas e acabaram optando por outras atividades. Pode-se dizer que se trata do fim de uma era, na qual a moda estava mais próxima da arte do que da indústria. ?O que estilistas como Ungaro produziam é como a Fórmula 1 da moda, é mais difícil de dar lucro?, diz Patrícia Sant?Anna, professora de design de moda da Universidade Anhembi Morumbi.

A marca de Ungaro, contudo, teve sucesso. Tanto é que foi vendida, em 2005, para o investidor paquistanês radicado nos EUA Asim Abdullah por 70 milhões de euros. Hoje, ela não é nem a sombra do que foi no passado. As roupas não são mais de alta-costura e as novas peças são voltadas ao mercado de prêt-à-porter. O último desfile da grife, aliás, deixou isso bem claro. Os executivos da empresa contrataram a atriz americana Lindsay Lohan, de 23 anos, mais conhecida por escândalos envolvendo bebedeiras e drogas, para atuar como conselheira da marca, ao lado de Estrella Archs, a estilista da grife. A coleção foi um desastre de crítica, Ungaro detestou e atacou publicamente as roupas que levavam o seu nome. Resultado: o CEO da empresa, Mounir Moufarrige, se demitiu. As vendas, porém, foram boas e Lindsay continua na marca no ano que vem. Essa é uma lógica difícil de aceitar para os tradicionalistas. O francês Christian Lacroix, por exemplo, levou sua grife por 22 anos sem que ela tenha dado lucro até decretar falência. Agora, venderá só perfumes e acessórios ? produtos que garantem mais receitas.

Ainda não se sabe qual caminho Lacroix seguirá, mas a aposta é que se dedique aos figurinos de teatro. Seu colega de agulhas, Thierry Mugler, já faz isso há tempos. Após vender a marca que levava seu nome para o grupo Clarins, ele se envolveu na confecção de roupas para o Cirque du Soleil. ?Estilistas não gostam de receber ordens e, por isso, cada um foi procurar a melhor forma de se expressar?, diz a estilista Juliana Ariza. Alguns desistem, como o espanhol Paco Rabanne, que se afastou da moda, mas mantém a linha de perfumes. Outros não conseguem parar. É o caso do japonês Kenzo Takada. Após vender sua marca para o grupo LVMH, em 1993, ele lançou outra, a Gokan Kobo, de móveis e acessórios para decoração.

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