Uma boa notícia foi aventada na semana passada, quando o governo federal informou que deve prorrogar o programa Reintegra, devolvendo parte dos tributos para empresas exportadoras. Outra, melhor ainda, é a inclusão do setor de papel e celulose, que não recebia esse benefício desde o lançamento do Reintegra, em 2011. O aparente avanço, entretanto, revela também a eterna falta de ousadia do governo brasileiro para manejar áreas estratégicas. Por que somente agora as indústrias de papel e celulose foram incluídas num plano tão fundamental como esse? Trata-se de uma cadeia de alto valor agregado, sendo que o eterno desafio brasileiro é aumentar a exportação de manufaturados, dentro de uma pauta de comércio exterior preponderante de produtos agrícolas. 

 

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Mais ainda: a desoneração de exportações é uma prática corriqueira em qualquer país exportador. Só no Brasil o anúncio desse benefício parece um grande negócio. De fato é, mas com um atraso enorme em relação ao restante do mundo. Ora, um País que almeja ser a sexta economia global, com tudo o que esse status supõe – desenvolvimento, qualidade de vida e justiça social para a toda a população –, não pode ter um governo que demore a tomar decisões tão fundamentais, e isso vale não só para a exportação, mas para todas as áreas que possam colocar o Brasil na dianteira. 

 

O foco em medidas que garantam competitividade precisa ser uma obsessão, algo que se repita todos os dias em todos os ministérios, para mudar a cultura de acomodamento que o País insiste em manter. É preciso ser radical nesse ponto. Porque, do contrário, o País continuará desperdiçando riqueza e jogando contra ele mesmo. Como lembrou o economista Roberto Gianetti da Fonseca, do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “um dia de indecisão do governo é um dia a menos sem investimentos”. E qual é o calcanhar de aquiles da economia brasileira atualmente? Exatamente a falta de investimentos. 

 

É preciso reconhecer que o governo Dilma foi firme em áreas onde nenhum outro governo foi, como em sua cruzada pela redução de juros, que diminuiu o famigerado spread bancário e ainda garantiu uma queda de quase 30% no custo do capital de giro das empresas. Mas o Planalto não tem o direito de se acomodar nessa conquista, pois o Brasil está atrasado em tudo o que se refere à produção industrial. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desonera setores temporariamente, o governo cria cada vez mais órgãos públicos para ganhar agilidade, como a agência estatal de seguros, já conhecida como Segurobrás. No entanto, o que falta é atitude, planejamento, estratégia – e isso não demanda recursos nem novas estatais. 

 

Durante uma feira de logística em São Paulo, há duas semanas, um debate acalorado com executivos do setor tentava compreender a lógica de o Planalto manter tantos órgãos para tratar do mesmo tema. Além do Ministério dos Transportes, há a Secretaria Especial de Portos e o próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Sem falar na Empresa de Planejamento Logístico e outras autarquias, como a Agência Nacional de Transporte Aquaviário. A “cereja do bolo” é a ideia de uma nova estatal, para cuidar somente de hidrovias. Só isso já dá uma pista do porquê algumas decisões caem no buraco negro de Brasília. E colocam investimentos fundamentais na areia movediça.