28/05/2019 - 13:12
O Relatório de Economia Bancária (REB) que o Banco Central divulgou mostra que, do lado do passivo das instituições financeiras, o estoque de captações do sistema bancário cresceu 4,6% ao longo de 2018. Em termos de composição, houve crescimento dos estoques dos instrumentos mais tradicionais de captação, como os depósitos a prazo e de poupança e, por outro lado, expressiva redução nos estoques de operações compromissadas com títulos privados, refletindo ainda mudanças regulatórias anteriores (Resolução 4.527, de 29 de setembro de 2016).
“Inovação no lado da captação foi o início das emissões de Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) em novembro de 2018. As LIGs são títulos de crédito garantidos por uma carteira de ativos-lastro submetida ao regime fiduciário”, diz o BC no relatório.
O instrumento, segundo o BC, foi criado com o objetivo de fomentar o mercado imobiliário e representa mais uma alternativa de captação para o financiamento das carteiras de crédito imobiliário.
No caso dos bancos de menor porte que têm o crédito como sua principal atividade, o papel desempenhado pelas captações intermediadas tem sido crescente, diz o REB. “Essas captações possuem taxas mais altas pagas a clientes de terceiros em troca de prazos mais longos e impossibilidade de resgate antecipado dos investimentos”.
Ao que tudo indica, avalia o documento, o investidor de plataformas de investimento é mais propenso a dispensar a liquidez imediata e aceitar prazos mais longos. Essas captações são uma manifestação no mercado doméstico da migração da prestação de serviços financeiros para o ambiente digital, processo que tende a se intensificar à medida que avanços tecnológicos forem reduzindo a necessidade de contato presencial entre 2018.
Custo do crédito
O custo do valor médio do crédito, segundo o Índice do Custo do Crédito (ICC) recuou de 22,24 pontos porcentuais em 2017 para 21,06 pontos em 2018. A decomposição do ICC foi realizada também no Relatório de Economia Bancária que o Banco Central divulgou pela manhã.
Essa queda é explicada pela redução do custo de captação (variação de -0,73 p.p. na contribuição) e da inadimplência (-0,74 p.p.), contraposta, parcialmente, pelo aumento do item tributos e Fundo Garantidor de Créditos (FGC), de 0,18 ponto porcentual e da margem financeira do ICC, de 0,28 ponto porcentual.
A contribuição das despesas administrativas ficou relativamente constante, em 0,02 ponto porcentual. “A explicação para a queda do spread do ICC, de 12,75 ponto de 2017 para 12,49 ponto em 2018, é semelhante à do ICC”, diz o Relatório de Economia Bancária.
O principal fator foi a redução da inadimplência, que caiu 0,74 ponto porcentual, contrabalançada em parte por aumentos dos itens tributos e FGC (0,18 p.p.) e margem financeira do ICC (0,28 p.p.).
Composição do Spread
Considerando valores médios entre 2016 e 2018, o componente de inadimplência respondeu por 37,2% do spread do ICC, seguido por despesas administrativas (27,4%), tributos e FGC (20,6%) e, por último, margem financeira do ICC (14,9%). Em linha com o importante papel desempenhado pelas perdas com inadimplência na explicação do ICC e do seu spread, foram encontradas evidências de que operações de crédito com garantias têm taxas de juros significativamente menores.
“Adicionalmente, observou-se que, quanto maior a qualidade da garantia fornecida pelo tomador de crédito, menor a taxa de juros cobrada”, diz o BC em boxe do REB e que foi divulgado na semana passada.
No mesmo sentido, estudo envolvendo a crise fiscal no Estado do Rio de Janeiro corrobora o diagnóstico da importância das perdas da inadimplência para o custo do crédito. A crise fiscal aumentou o risco associado às operações de crédito consignado concedido a funcionários públicos do Estado do Rio de Janeiro.
“Os resultados das estimações mostram que houve um aumento da taxa de juros do crédito consignado concedido a funcionários públicos estaduais da ordem de 3,06 pontos porcentuais na taxa anualizada e aumento do porcentual do saldo em atraso em 0,16 ponto porcentual. Essas evidências reforçam o entendimento de que melhorias no processo de recuperação de garantias no SFN são importantes para reduzir o custo de crédito dos tomadores de forma sustentável”, diz o BC.