18/06/2025 - 9:46
O Estreito de Ormuz é uma via navegável de apenas 33 quilômetros de largura localizada entre o Irã e o Omã, por onde transitam navios vindos do Golfo Pérsico em direção ao Mar Arábico.
É o gargalo para o transporte de petróleo mais importante do mundo, na definição da Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês).
No seu ponto mais estreito, a via pela qual os navios podem navegar tem apenas 3,2 quilômetros de largura em cada direção, o que a torna congestionada e perigosa.
Grandes volumes de petróleo bruto extraídos por países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, passam pelo estreito antes de chegarem a países consumidores em todo o mundo.
Estima-se que cerca de 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis sejam transportados por ali diariamente, segundo dados da Vortexa, uma consultoria do mercado de energia e frete.
O Catar, um dos maiores produtores mundiais de gás natural liquefeito (GNL), também depende fortemente do estreito para transportar suas exportações da commodity.
Qual é a situação atual no estreito?
A escalada do conflito entre Israel e o Irã aumentou a tensão sobre a segurança da hidrovia. No passado, o Irã já ameaçou fechar o Estreito de Ormuz ao tráfego em retaliação à pressão de países do Ocidente.
Armadores estão cada vez mais cautelosos em usar o estreito. Alguns navios reforçaram a segurança a bordo, enquanto outros cancelaram rotas que passariam por ali, informou a agência de notícias AP.
Desde sexta-feira, não houve nenhum ataque significativo à navegação comercial na região. Mas dois petroleiros colidiram na costa dos Emirados Árabes Unidos nesta terça-feira (17/06) – os navios pegaram fogo, mas não houve vítimas nem derramamento de óleo.
A interferência eletrônica nos sistemas de navegação de navios comerciais aumentou nos últimos dias ao redor da hidrovia e do Golfo, disseram fontes navais à agência de notícias Reuters. Essa interferência afeta os navios que navegam pela região.
Como não parece haver um fim à vista para o conflito, os mercados ficam em alerta. Qualquer bloqueio da hidrovia ou interrupção no fluxo de petróleo poderia provocar um forte aumento nos preços do petróleo bruto e afetar os países importadores, especialmente na Ásia.
O frete dos navios que transportam petróleo bruto e derivados na região já aumentou nos últimos dias. O custo do transporte de combustíveis do Oriente Médio para o Leste Asiático subiu quase 20% em três sessões até segunda-feira, informou a Bloomberg, citando dados da Baltic Exchange. O frete para a África Oriental aumentou mais de 40%.
Quem seria mais afetado em um bloqueio?
A EIA estima que 82% dos carregamentos de petróleo bruto e outros combustíveis que atravessam o estreito vão para consumidores asiáticos.
China, Índia, Japão e Coreia do Sul são os principais destinos – esses quatro países juntos respondem por quase 70% de todo o fluxo de petróleo bruto e condensado que atravessa o estreito.
Esses mercados provavelmente seriam os mais afetados por interrupções no transporte marítimo ali.
Como um bloqueio afetaria o Irã e os países do Golfo?
Se o Irã tomar medidas para fechar o estreito, isso poderia potencialmente provocar uma intervenção militar dos Estados Unidos. A Quinta Frota dos EUA, estacionada no vizinho Barein, tem a tarefa de proteger o transporte comercial na área.
Qualquer movimento do Irã para interromper o fluxo de petróleo pela hidrovia também poderia comprometer as relações de Teerã com os países árabes do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – países com os quais o Irã tem melhorado as relações nos últimos anos de forma meticulosa.
Os países do Golfo Pérsico vêm criticando Israel pelos ataques contra o Irã, mas se as ações de Teerã obstruírem suas exportações de petróleo, eles podem ser pressionados a se posicionar contra Teerã.
Além disso, o Irã também depende do Estreito de Ormuz para enviar seu petróleo aos clientes, e fechar o estreito poderia ser um tiro no próprio pé.
“A economia do Irã depende fortemente da livre passagem de mercadorias e navios pela rota marítima, já que suas exportações de petróleo são inteiramente marítimas”, afirmaram à agência de notícias Reuters os analistas Natasha Kaneva, Prateek Kedia e Lyuba Savinova, do JP Morgan.
“Fechar o Estreito de Ormuz seria contraproducente para o relacionamento do Irã com seu único cliente de petróleo, a China”, disseram.
Existem alternativas ao estreito?
Países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, desenvolveram nos últimos anos infraestruturas que lhes permitem transportar parte de seu petróleo bruto por outras rotas, contornando o estreito.
A Arábia Saudita, por exemplo, opera o Oleoduto Leste-Oeste, com capacidade para transportar cinco milhões de barris por dia até o Mar Vermelho. E os Emirados Árabes Unidos têm um oleoduto que liga seus campos petrolíferos terrestres ao terminal de exportação de Fujairah, no Golfo de Omã.
A EIA estima que cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo bruto por dia produzidos na região poderiam contornar o Estreito de Ormuz em caso de bloqueio da hidrovia.