22/04/2009 - 7:00
O engenheiro mecânico Ricardo Villela Marino é uma estrela em plena ascensão no mundo das finanças. Aos 35 anos, foi apontado pelo Fórum Econômico Mundial como um jovem líder global e ocupou lugar de destaque na edição da América Latina, encerrada na quinta-feira 16, no Rio de Janeiro. Ao lado de figurões como o presidente do Lloyd’s of London, lorde Levine, Villela, diretor-executivo e membro do conselho de administração do Itaú Unibanco, participou ativamente dos debates. Sua mãe, Milú Villela, estava lá e ficou muito orgulhosa. Em inglês fluente, o executivo demonstrou confiança no Brasil e no presidente Lula. Foi até filosófico durante um almoço: “A vida é compreendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida olhando-se para a frente.” Se nas últimas décadas os Setubal comandaram o Itaú praticamente sozinhos, hoje seus primos Villela, grandes acionistas, chegam ao poder na organização, ao lado de uma nova família controladora: os Moreira Salles, do Unibanco. Discreto e avesso a entrevistas, ele rompeu o silêncio e falou à DINHEIRO .
Ricardo Villela Marino, do Itaú Unibanco:
DINHEIRO – O Itaú Unibanco pretende comprar bancos na América Latina?
VILLELA – A prioridade total é fazer uma boa execução da integração (entre o Itaú e o Unibanco). Sabemos que o sucesso e a sustentabilidade do negócio vão partir do mercado doméstico. Este é o nosso foco no momento. Buscamos o que tem de melhor no Unibanco e no Itaú para fazer a soma dar quatro, e não dois. Temos que buscar as sinergias, alavancar o potencial das nossas pessoas e buscar uma cultura única que seja um diferencial competitivo.
DINHEIRO – Como está sendo a relação das famílias Villela, Setubal e Moreira Salles?
VILLELA – Está funcionando bastante bem, pois começou bastante bem. Os valores das famílias são bastante similares: respeito às pessoas, visão de longo prazo, acreditar no Brasil e ter ética, ter responsabilidade social, zelar pela cultura do nosso país. Como instituição líder que somos, temos de ter humildade e senso de responsabilidade para fazer a diferença no nosso país. As relações têm sido bastante positivas, fazendo concessões de ambas as partes, de maneira a criar um todo melhor. As concessões começaram desde as negociações entre Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles.Esse relacionamento tem sido muito harmônico. Meu papel é cuidar dos recursos humanos e da operação na América Latina.
DINHEIRO – Quais são suas ambições na América Latina?
VILLELA – Continuar sendo rentável, eficiente e, acima de tudo, buscar escala nos países onde estamos presentes: Paraguai, Chile, Uruguai, Argentina. Na semana passada, recebemos no Chile o prêmio de Melhor Empresa Brasileira do Ano. É uma honra.
DINHEIRO – Como viu a decisão do governo brasileiro de reduzir o superávit primário e excluir a Petrobras do cálculo? Isso inspira alguma preocupação com relação à política fiscal do governo?
VILLELA – Prefiro não opinar.
DINHEIRO – O sr. disse que a América Latina é parte da solução da crise, não do problema. Como vê o papel do presidente Lula?
VILLELA – Ele sai fortalecido da crise. O Brasil sai fortalecido. O País tem melhorado constantemente seus fundamentos macroeconômicos, tem uma política estável. Isso é fruto e mérito do presidente Lula. Tem uma responsável e consistente política monetária, sob a liderança também do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Claro que o Brasil sofre com as questões de comércio internacional, a queda dos preços de commodities e o financiamento mais caro. Mas o Lula tem feito um grande trabalho de levar essa boa imagem do Brasil lá fora, mostrando as fortalezas econômicas e sociais que o País tem, através de programas que ele mesmo criou, de alívio de pobreza e alavancagem da demanda doméstica. Temos um mercado gigante e o Lula sabe alavancar bastante bem em prol do investimento e do crescimento.
DINHEIRO – O sr. não teme uma guinada na política econômica?
VILLELA – Esse era um temor inicial quando Lula assumiu a Presidência em 2002 e não se consumou. Não creio que o presidente Lula será irresponsável. Ele tem um track record bastante bom e ortodoxo de manter boas práticas fiscais, com disciplina fiscal. Tem uma boa e razoável política monetária, de maneira a controlar a inflação no nosso País, o que é fundamental. E tem dado poder de compra para a nossa população, principalmente a de mais baixa renda, de maneira que o Banco Central possa continuar seu trabalho de redução de juros. Uma vez que o ciclo melhore depois da crise global, estaremos numa posição ímpar para poder ser o primeiro e um dos principais países na recuperação.
DINHEIRO – O BB perdeu a liderança para o Itaú Unibanco e reagiu comprando bancos estaduais.
VILLELA – Após a fusão, o Itaú Unibanco passou a ser a maior instituição do Brasil e da América do Sul. Não que seja um objetivo ser a maior, queremos ser uma instituição com uma boa performance, que sirva melhor aos nossos clientes. O Banco do Brasil, um competidor que respeitamos muito, vai tomar as medidas necessárias para retomar a questão do seu posicionamento do mercado.