09/04/2008 - 7:00
REPARE NO SENHOR DA FOTO AO LADO. Seu nome é Berge Kahtalian. Descendente de armênios, ele ganhou muito dinheiro com a fabricação e venda de calçados esportivos no Brasil. Aos 83 anos e com uma confortável situação financeira, seria razoável supor que ele está em via de ?pendurar as chuteiras?. Ao contrário. Em meados de junho próximo ele pretende cortar a fita de inauguração da nova fábrica da Pro Star Artigos Esportivos, em Campo Bom (RS). Um investimento de R$ 5 milhões. A unidade permitirá elevar o faturamento anual para R$ 60 milhões e dobrar a produção de tênis All Star para 10 mil unidades por dia. E é exatamente nesse ponto que reside o problema. A americana Converse Inc., dona da grife All Star no mundo, há muito rompeu com Kahtalian. As relações, que foram amistosas até o início da década de 1980, deram lugar a uma guerra judicial que se arrasta por quase 30 anos. O pomo da discórdia é a titularidade da marca All Star, registrada por Kahtalian em 1979. Em 2007, o empresário teve esse direito cassado pela Justiça. Não se deu por vencido. Por meio de liminares ele segue produzindo e vendendo o calçado. ?Vou lutar até o fim. Investi muito dinheiro para construir a mística da All Star no Brasil e acabei levando uma rasteira?, dispara o empresário.
Não deixa de ser verdade. Nos anos 1980, o Brasil foi um dos países onde o tênis de lona se tornou um ícone de jovens e adultos de todas as classes sociais. Era comum ver roqueiros e artistas de TV ? como Cazuza e Débora Bloch ? desfilando com All Star nos pés. A estratégia desenhada por Kahtalian incluiu o uso de cores fortes (vermelho e amarelo), estampas psicodélicas e o tênis com zíper. Na época, a Converse atuava somente com modelos ?bem comportados?. Para vitaminar as vendas ele contratou a cantora Tina Turner como garota-propaganda. ?Nosso faturamento chegou a bater a casa dos US$ 100 milhões?, recorda. A briga com a Converse e o erro de concentrar a produção em apenas um fornecedor ? que faliu em 1999 ? quase tiraram Kahtalian de cena. Sem poder importar o calçado, ele teve de desenvolver novos parceiros. Nomeou a cearense Calçados Senador Pompeu como produtor e distribuidor para o Nordeste, além de abrir, ele mesmo, uma planta em Novo Hamburgo (RS). A profusão de fabricantes ?oficiais? confunde o consumidor e gera situações, no mínimo, bizarras. Na edição 2008 da Couromodas havia dois expositores All Star.
As alegações do veterano empresário são rebatidas pelos representantes da Converse no Brasil. A Nike, que comprou a companhia em 2003, não quis se manifestar sobre o caso. Passou a bola para sua parceira Coopershoes que, por sua vez, indicou a Dannmann Advogados. De acordo com o advogado Rodrigo Torres, Kahtalian age de má-fé. ?Ele está se apropriando de uma grife de forma ilegal?, argumenta Torres. O advogado avisa que vai usar munição de grosso calibre contra o empresário. Uma das opções é pedir a busca e a apreensão dos produtos no varejo e nas fábricas ligadas a Kahtalian. O próximo alvo é a Calçados Senador Pompeu. O octogenário Kahtalian segue firme. ?Vou lutar até o fim?, garante.
CAMINHO TORTUOSO |
1971 A marca chega ao País pelas mãos do empresário Berge Kahtalian |
2002 A Converse concede à Alon International o direito de gerenciar a All Star nos países do Mercosul |
2003 A Nike compra a Converse e assume o controle da grife em todo o mundo |
2003 Kahtalian nomeia a Calçados Senador Pompeu como fabricante e distribuidor ?oficial? para o Nordeste |