O ex-presidente do Banco Central (BC), Arminio Fraga, hoje sócio-fundador da Gávea Investimentos, diz que o governo precisa ter um ‘RH’ do Estado para avaliar o que vai bem, e o que funciona melhor no funcionalismo público.

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“Uma estrutura de carreiras precisa ser repensada no Brasil”, afirmou Fraga. “As reformas precisam entrar em discussão, ser expostas de forma competente, ‘charmosa’, com elemento de convencimento. Não é trabalho para tecnocrata, mas estudiosos, e para os próprios políticos, que precisam ser convencidos”.

Fraga aponta que é um trabalho lento, mas a discussão sobre uma reforma administrativa precisa começar. “É fundamental começar a criar, ter planejamento, começar a pensar ou repensar o Estado brasileiro. Que cada carreira tenha uma noção do que é uma remuneração razoável. Vamos nos deparar que a nossa realidade, nosso cobertor é curto.”

Arminio Fraga participou na manhã desta terça-feira,2, do lançamento do livro do economista Bruno Carazza, “O País dos Privilégios: Os Novos Velhos Donos do Poder”, na Fundação Dom Cabral (FDC), em São Paulo. O livro é primeiro volume de uma trilogia que aborda regalias e benesses do topo de carreiras do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, baseado na análise das folhas de pagamento de tribunais, ministérios, parlamentos e Forças Armadas, entre outras instituições do Estado brasileiro.

Para ele, chama a atenção o poder do lobby desses estratos sociais – como o topo das carreiras e do empresariado. Arminio aponta ainda para a falta de avaliação do funcionalismo público. “Deveria ser uma rotina, mas ocorre muito pouco. O Estado precisa avaliar seus funcionários. Criar mecanismos de avaliação que não permitissem arbitrariedades”.

Governo Lula e funcionalismo

Contudo, o economista avalia que o Brasil ainda “não está pronto” para fazer essa reforma. Mas pondera: “Mas também não estávamos prontos para fazer a reforma tributária ou previdenciária. Ainda assim, ele acredita que a discussão precisar ser aberta para que o país esteja preparado para uma ‘janela de oportunidade”, ainda que ele não enxergue essa janela em um futuro próximo.

“Não vejo no atual governo muito entusiasmo de fazer qualquer coisa que possa aparentemente contrariar o funcionalismo público. Espero estar errado”.