13/02/2019 - 14:45
Por causa do aumento da capacidade e da altura das barragens de rejeitos, o risco de falha nessas estruturas tem aumentado vinte vezes a cada 30 anos. Esse é um dos dados anexados a um relatório apresentado à Justiça pelo Ministério Público de Minas Gerais. O estudo indica que, ao longo do século 20, esses tipos de reservatórios, em todo o mundo, se tornaram mais altos – o que eleva a possibilidade de acidentes.
A barragem de Brumadinho tinha 87 metros de altura e havia passado por dez alteamentos de 1982 a 2013. A estrutura foi construída pela técnica de alteamento à montante, tipo de construção inseguro e mais suscetível à liquefação, causa apontada pela investigação da Polícia Federal como a principal hipótese para o desastre que deixou ao menos 165 mortos.
“Quanto mais alta a barragem, maior a probabilidade de falha e quanto maior o volume de rejeito armazenado, maior potencial de dano”, indica o documento, que cita estudo canadense sobre o assunto. Se, na década de 1900, as barragens de rejeitos chegavam à altura máxima de 30 metros, atualmente há estruturas com 240 metros de altura.
Isso ocorre, segundo o relatório, porque a metodologia de construção permite alteamentos sucessivos nas barragens, um modelo atraente para as empresas. Além de diluir custos, dá mais flexibilidade de operação, uma vez que permite adaptar a barragem à necessidade de aumentar a produção.
Documento da mineradora repassado ao MP mostra dez estruturas em estado de atenção por problemas estruturais. No reservatório que rompeu, havia ameaça de erosão e liquefação.
Vale já sabia, desde outubro, que a barragem que rompeu em Brumadinho e outras nove estruturas em Minas Gerais estavam enquadradas em uma categoria de alerta. Essa informação consta de um documento da própria empresa sobre a situação dos reservatórios que a Justiça tornou público na terça-feira, 12.
Os dados foram obtidos pelo Ministério Público (MP) de Minas, que moveu ação contra a mineradora. A empresa diz que as informações são “probabilidades” e não houve nenhuma detecção prévia de falha nos monitoramentos.
O MP-MG solicitou à Vale, no dia 31 de janeiro, seis dias após o rompimento da barragem, informações do setor de gestão de risco geotécnico da empresa. De 57 barragens avaliadas, 10 estavam enquadradas na chamada Zona de Atenção (Alarp Zone). Segundo a promotoria, havia “severo risco de rompimento”.
Em entrevista coletiva, a mineradora defendeu ontem sua política de alertas para barragens. Segundo o gerente executivo de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão da empresa, Lúcio Cavalli, os fatores descritos no documento são “probabilísticos” e não “determinantes”.
Já o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, afirmou que a Vale continua colaborando com as investigações e contratou outro painel de especialistas internacionais para apurar as causas da tragédia. Para ele, a narrativa de que os níveis de água aumentaram e deveriam ter disparado o alerta não é sustentável.
A Vale ainda divulgou laudo sobre o funcionamento dos piezômetros (aparelhos que medem o nível de água) da barragem. Conforme o documento, a estrutura estava sem leitura desses equipamentos em janeiro.