25/05/2018 - 7:34
Pesquisadores brasileiros acabam de acrescentar mais um personagem ao escasso elenco de espécies que figuram nos primeiros capítulos da história evolutiva dos dinossauros. E de relevância mundial. Batizado de Bagualosaurus agudoensis, ou “lagarto bagual de Agudo”, ele viveu há 230 milhões de anos, onde hoje fica o Rio Grande do Sul. Tinha mais de 2,5 metros de comprimento e, a julgar pelos dentes, se alimentava de folhas.
“Ele é parecido com o que se espera de outros dinossauros primitivos, mas com algumas inovações anatômicas na estrutura do crânio, especialmente nos dentes, que sugerem que tinha uma dieta quase 100% herbívora”, explica o paleontólogo Flávio Pretto, da Universidade Federal de Santa Maria, que descreveu o fóssil para sua tese de doutorado. “É um dos dinos mais antigos do mundo.”
Descoberto em 2007, em um barranco à beira de um açude, em uma propriedade rural de Agudo (a 240 km de Porto Alegre), o fóssil ficou mais de cinco anos guardado em um armário do Laboratório de Paleovertebrados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a tutela do professor Cesar Schultz. “Estava só esperando alguém para estudá-lo, e acabou caindo na minha mão”, comemora Pretto. É comum fósseis passarem anos guardados em coleções até serem estudados de fato por algum especialista – não apenas no Brasil, mas no mundo todo. É o que se costuma chamar, carinhosamente, de “paleontologia de gaveta”.
A descoberta tem relevância mundial, pois há muito poucos fósseis de dinossauros desse período, no início do Triássico, que foi quando os dinossauros começaram a se multiplicar e se diversificar pelo planeta. Os únicos lugares no mundo onde foram encontrados são justamente no interior do Rio Grande do Sul e no noroeste da Argentina.
“O que sugere que esses bichos surgiram provavelmente em algum lugar próximo daqui”, afirma Pretto. “Todo mundo que quiser estudar a origem dos dinossauros tem de vir para cá, olhar os nossos fósseis.”
“Todo o resto é mais novo, ou mais fragmentado”, diz o paleontólogo Max Langer, da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, que também assina a descrição do fóssil, ao lado de Pretto e Schultz.
O Bagualosaurus é a sétima espécie de dinossauro do Triássico descoberta no Rio Grande do Sul. Ele pertence à linhagem dos saurópodes, aqueles répteis gigantescos, de cabeça pequena (a dele tinha apenas 13 centímetros) e pescoço comprido, que mais tarde produziria espécies com mais de 50 metros de comprimento. Comparado a esses animais “titânicos” do Jurássico e do Cretáceo, ele era pequeno, mas se tratava de um bicho grande para a época. Outros dinos que conviveram com ele mal chegavam a 1,5 metro de comprimento.
Os pesquisadores acreditam, até, que ele já tinha tamanho suficiente para competir por alimento com os herbívoros dominantes daquela época, que eram os rincossauros e os cinodontes (precursores dos mamíferos). Foi só depois que esses outros grupos desapareceram, por volta de 220 milhões de anos atrás, que os dinossauros se tornaram, de fato, a fauna dominante do planeta.
Dieta
O fato de o Bagualosaurus já ter uma dentição bem adaptada ao consumo de vegetação é especialmente importante para a história evolutiva dos dinossauros. Pretto explica que todos os saurópodes têm duas características em comum: o gigantismo e o herbivorismo. “Mas não sabemos exatamente o que veio primeiro”, afirma.
O Bagualosaurus sugere que a dieta de folhas surgiu primeiro, e pode ter sido a fonte de energia para o gigantismo. O estudo está publicado no Zoological Journal of the Linnean Society. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.