Os resultados de um estudo francês que mostra que um tratamento  preventivo contra a aids feito antes e após as relações sexuais permitia  reduzir em 86% o risco de infecção foram publicados nesta terça-feira  pela revista médica americana New England Journal of Medicine.

Os resultados do ensaio Ipergay, conduzido com 414 homossexuais  franceses e canadenses, já havia sido apresentado publicamente em  fevereiro na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas  (CROI), realizada em Seattle, nos Estados Unidos.

Mas eles ainda não tinham sido publicados em uma revista médica de referência, como é a regra na comunidade científica.

A publicação coincide com o dia mundial contra a aids e vem apenas  uma semana após o sinal verde dado pela França para o uso do Truvada –  uma combinação de antirretrovirais do laboratório norte-americano Gilead  já utilizado pelos pacientes – como uma ferramenta para a prevenção.

A ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine, anunciou em 23 de  novembro que o tratamento preventivo será 100% subsidiado desde o início  do próximo ano para as pessoas hiv-negativas com risco elevado de  contaminação.

Sua decisão foi baseada principalmente nos resultados do teste feito com o Ipergay.

Ao contrário dos estudos feitos nos Estados Unidos e do Reino Unido  sobre terapia preventiva administrada continuamente (um comprimido por  dia), o estudo coordenado pela Agência Nacional de Pesquisas sobre Aids  (ANRS) baseou-se num tratamento avulso, com dois comprimidos de Truvada  tomados antes da relação de risco, um terceiro no dia seguinte e um  quarto no dia seguinte dois dias mais tarde.

Metade do grupo estudado recebeu Truvada e a outra metade um placebo.  Dezesseis infecções ocorreram durante os nove meses de follow-up dos  participantes, incluindo 14 no grupo placebo e dois no grupo Truvada,  mas os autores observam que ambos interromperam o tratamento várias  semanas antes da infecção.

Para Jean-Michel Molina, um dos autores do teste, “os resultados do  estudo mostram por um lado que o risco de infecção pelo hiv é muito  elevado na França e no Canadá nas populações de risco e, por outro, que o  tratamento preventivo permite uma redução importante do risco,  justificando sua implantação como um meio adicional de prevenção contra o  hiv”.

O teste com o Ipergay deve, segundo a ANRS, ser realizado em 2016,  para trazer novos dados sobre “a eficácia a longo prazo” do tratamento  preventivo, mas também sobre “sua observação e seu impacto nos  comportamentos sexuais”.

Segundo os primeiros resultados do Ipergay, os participantes não  correram mais riscos que antes e poucos abandonaram o tratamento,  diferentemente do que ocorreu num estudo norte-americano conduzido em  2010 sobre um tratamento contínuo.