12/12/2018 - 18:00
A dona de casa Damiana Francisco Leandro Alves, de 76 anos, não consegue se conformar com a sequência de fatos que resultaram na morte do marido, o aposentado Heleno Severo Alves, de 84 anos, a quinta vítima da chacina da Catedral, em Campinas. “Logo cedo, ele pegou o rosário, o livro de orações e disse que ia rezar, mas perdeu o circular. Eu falei que era para não ir, que tem coisa que vem por bem, é um aviso. Falei, vai descansar, homem. Mas ele, ‘não, eu tenho que ir’. Pegou outro ônibus e foi.”
Damiana conta que estava vendo televisão quando ouviu falar do tiroteio na Catedral, onde ele devia estar. “Falaram dos tiros, e já veio um aperto. Quando puseram as imagens, eu já vi ele caído, a perna com a bota, a mesma roupa. Ele caído lá, no meio daquela bagunça toda. Ia fazer 85 anos em junho.”
Natural de Juazeiro do Norte (BA), a senhora conta que o marido era pernambucano de Exu. “No dia 25 de dezembro agora, nós íamos fazer 63 anos de casados. Criamos 9 filhos e temos 24 netos e 18 bisnetos. Ele era um beija-flor com os filhos e netos, o que pediam, ele fazia. Agora, resta pedir força a Deus”.
A família reside no bairro Morada do Sol, em Indaiatuba, cidade da região de Campinas. “Essa casa é muito grande e ele fez ela todinha”, conta o filho Sebastião Severo Alves, de 48 anos, dono de uma de adega em Campinas. Parte dos familiares estava reunida na casa, na tarde desta quarta-feira, à espera da liberação do corpo. Eles ainda não sabiam onde fariam o velório. “Eu o ajudava com algumas contas e estou com muito remorso por não ter vindo vê-lo ontem cedo. Era um homem de fé, muito católico. Minha mãe não ia com ele na igreja porque segue a religião dos mórmons, mas os dois não se largavam.”
Sebastião conta que Heleno ganhou a vida como pedreiro e construtor. “Ergueu muita obra, aqui e no Paraná, onde moramos quando eu era pequeno. Quando ele fez esta casa, esse bairro não existia, era estrada de chão batido. Era um pernambucano daquele jeitão. Não gostava muito de barulho, às vezes ralhava com os filhos e os netos, mas era um paizão.” Moradores do bairro contam que Heleno era um homem de pouca conversa, mas muito trabalhador. “Ele passava com o carrinho de areia e ia lá rebocar a casa, sozinho. Era um homem bom demais”, disse o vizinho João Pedro Leite.