O chefe do Pentágono, James Mattis, advertiu nesta quarta-feira que os Estados Unidos podem “moderar o seu compromisso” com a Otan se o restante dos países não aumentar seu gasto militar, no primeiro encontro com os aliados desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca.

“Se suas nações não quiserem ver os Estados Unidos moderar o seu compromisso com esta Aliança, cada uma das capitais precisa mostrar o seu apoio à nossa defesa comum”, afirmou Mattis aos seus homólogos em sua primeira intervenção na Otan como secretário de Defesa.

Mattis foi a Bruxelas com duas mensagens claras para os aliados preocupados com as declarações de Trump sobre a Aliança: a Otan é um “pilar fundamental” para Washington, mas a “defesa da liberdade” tem “um custo necessário”.

De maneira mais direta, Mattis disse a seus contrapartes que “os americanos não podem se preocupar mais com a futura segurança de seus filhos do que vocês”. Segundo ele, o montante com o qual os Estados Unidos contribuem “já não pode carregar uma participação desproporcional na defesa dos valores ocidentais”.

A mensagem parece ter encontrado eco na Aliança Atlântica. Seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, assegurou que o chefe do Pentágono enviou “uma mensagem muito firme ao resto dos aliados” sobre a “importância” de repartir as responsabilidades na Otan.

E vários países, como Alemanha, Reino Unido e Dinamarca, defenderam a posição de Mattis, como a ministra alemã, Ursula von der Leyen, para quem “os americanos têm razão” e é “de justiça” que os europeus aportem uma contribuição também para que esta não recaia “excessivamente” sobre Washington.

‘Não apenas despesas’

O aumento dos gastos militares é uma exigência antiga dos Estados Unidos, que, em 2014 durante a cúpula de Gales, conseguiu que seu aliados se comprometessem a aumentar seus gastos militares para até 2% do PIB nacional antes de 2024.

Somente cinco dos 28 países da Aliança cumprem com este objetivo – Estados Unidos, Reino Unido, Grécia, Estônia e Polônia – mas outros, como a França (1,78% em 2016) e a Espanha (0,91%), exigem que levem em conta o impacto nas contas públicas de operações realizadas no exterior.

Pela primeira vez, Stoltenberg abriu a porta a se levar em conta estas missões para o compromisso de 2% e não apenas a divisão de gastos em defesa, prevista nos orçamentos nacionais.

“Uma divisão justa das responsabilidades não é apenas a despesa”, assegurou.

O chefe da Otan destacou a participação da Espanha e da Itália em missões no Afeganistão e no Kosovo, assim como “alguns [países] europeus”, que “contribuíram muito também em operações de grande importância para os Estados Unidos”.

A “segunda casa” de Mattis

Prevendo o protagonismo do debate do gasto militar, Stoltenberg não deixou de reiterar desde a véspera que a queda das despesas militares freou em 2015 e que inclusive em 2016 aumentou 3,8% no total entre o Canadá e os europeus.

Esta cifra parece ser insuficiente para os Estados Unidos que, através de Mattis, reivindicaram “prazos” este ano sobre o aumento da contribuição de seus aliados, uma medida que fará parte do debate iniciado nesta quarta-feira e que poderia continuar, segundo o líder da Aliança, na cúpula de chefes de Estado, em maio, com Trump.

James Mattis tornou-se, definitivamente, o protagonista desta reunião, apesar de não ser um desconhecido para a Otan, que considera sua “segunda casa”. Este general da reserva dos Marines foi entre 2007 e 2009 um dos seus principais chefes militares, à frente do Comando Supremo de Transformação.

Além do gasto militar, o encontro terminou o primeiro de seus dois dias com a aprovação da implantação, “o quanto antes”, em Nápoles, de um centro para coordenar informação sobre a luta contra o terrorismo extremista, especialmente no Oriente Médio e no Norte da África.

A Rússia, por sua vez, centrará a discussão de quinta-feira, na qual Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia, países que sediam este ano batalhões aliados, pedirão que “se reafirme seguramente o vínculo transatlântico”, assegurou outra fonte diplomática a respeito de uma vizinha Rússia mais agressiva desde a anexação da então península ucraniana da Crimeia em 2014.