Os Estados Unidos classificaram a retaliação da China contra suas tarifas como um “grande erro” nesta terça-feira, 08, enquanto que a guerra comercial global desencadeada pelas taxas do presidente Donald Trump mostra poucos sinais de diminuição, mesmo com os mercados globais se estabilizando após dias de liquidação.

A China se recusou a ceder ao que chamou de “chantagem” depois que Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre as importações norte-americanas da segunda maior economia do mundo para mais de 100%, em resposta à decisão da China de igualar as tarifas “recíprocas” anunciadas por Trump na semana passada.

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A abordagem rápida e dura da China contrastou com as medidas mais brandas de outros países asiáticos. A União Europeia também ainda está consultando os Estados membros sobre como reagir às tarifas de Trump sem causar mais danos aos seus consumidores e exportadores.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, criticou Pequim em uma entrevista à CNBC. Ele enfatizou que qualquer negociação dos EUA com outros países sobre tarifas foi resultado do fato de eles terem batido à porta de Washington, e não devido à turbulência do mercado global.

“Acho que foi um grande erro essa escalada chinesa”, disse ele. “Tudo está na mesa”, disse Bessent quando questionado se a União Europeia precisa reduzir as barreiras não tarifárias, incluindo impostos sobre valor agregado.

Na terça-feira, a China prometeu “lutar até o fim”.

“A ameaça do lado norte-americano de aumentar as tarifas contra a China é erro em cima de erro, expondo mais uma vez a natureza chantagista do lado norte-americano”, disse o Ministério do Comércio da China.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma ligação telefônica com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pediu a Pequim que garanta uma solução negociada e enfatizou a necessidade de apoiar um sistema de comércio justo baseado em condições equitativas.

Os dois também discutiram a criação de um mecanismo para rastrear possíveis desvios de comércio causados pelas tarifas, informou o gabinete de von der Leyen, já que a UE teme que a China redirecione as exportações baratas dos EUA para a Europa.

Os fabricantes chineses estão fazendo alertas sobre os lucros e buscando planejar novas fábricas no exterior. Citando o aumento dos riscos externos, o Citi reduziu sua previsão de crescimento do PIB da China em 2025 de 4,7% para 4,2%.

Enquanto as duas maiores economias do mundo trocavam golpes, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou de “ignorantes e rudes” os comentários feitos pelo vice-presidente JD Vance em uma recente entrevista à Fox News.

Ao defender as tarifas de Trump, Vance criticou o modelo econômico dos EUA por prejudicar seus próprios trabalhadores: “Pedimos dinheiro emprestado aos camponeses chineses para comprar as coisas que esses camponeses chineses fabricam.”

EUA “Irreconhecíveis”

Conforme o sentimento do mercado financeiro permanecia frágil, o diretor da operadora de bolsa de valores pan-europeia Euronext disse que os Estados Unidos estavam começando a se assemelhar a um mercado emergente.

“O medo existe em toda parte”, disse Stephane Boujnah à rádio France Inter, afirmando que os EUA haviam se tornado “irreconhecíveis”.

“Há uma certa forma de luto, porque os Estados Unidos, que conhecíamos em sua maior parte como uma nação dominante, que se assemelhava aos valores e às instituições da Europa, agora se assemelha mais a um mercado emergente.”

Os mercados emergentes geralmente usam tarifas específicas para proteger determinados setores da concorrência estrangeira.

Os mercados de ações encontravam uma base mais firme nesta terça-feira, depois de alguns dias angustiantes para os investidores, o que levou alguns líderes empresariais, incluindo aqueles próximos a Trump, a pedir ao presidente que reverta o curso.

As ações europeias saíram das mínimas de 14 meses após quatro sessões consecutivas de fortes vendas, enquanto os preços globais do petróleo se estabilizavam depois de caírem para mínimas de quatro anos.

Trump disse que as tarifas – um mínimo de 10% para todas as importações dos EUA, com taxas direcionadas de até 50% – ajudarão os Estados Unidos a recuperar uma base industrial que, segundo ele, definhou ao longo de décadas de liberalização do comércio.

Europa busca contramedidas

A Comissão Europeia, por sua vez, está pensando em contratarifas de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja, nozes e salsichas, embora outros itens em potencial, como o uísque bourbon, tenham sido deixados de fora da lista, segundo um documento visto pela Reuters.

Autoridades disseram que estavam prontas para negociar um acordo “zero por zero” com o governo de Trump e disseram que todos os instrumentos estão na mesa para evitar uma guerra tarifária.

O bloco de 27 membros está lutando com tarifas sobre automóveis e metais já em vigor, e enfrenta uma tarifa de 20% sobre outros produtos na quarta-feira. Trump também ameaçou impor tarifas sobre as bebidas alcoólicas da UE.