Os Estados Unidos estão enviando sinais preocupantes ao resto do mundo sobre as perspectivas de sua dívida pública, com a eleição de um Congresso dividido e um crescimento lento que levou o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a lançar um novo ciclo de compras de bônus do Tesouro.

Dez trilhões de dólares em setembro de 2008, 12 trilhões em novembro de 2009 e 14 trilhões em algum momento de 2011: a dívida do governo americano disparou com a crise econômica.

A Câmara de Representantes, de maioria republicana, e o Senado, dominado pelos democratas, após as eleições legislativas desta terça-feira não parecem a combinação mais propícia para se combater a raiz do problema: o déficit orçamentário.

“Democratas e republicanos devem encontrar o meio termo para adotar políticas que combatam o excesso da dívida”, escreveu nesta quarta-feira Mohamed El-Erian, número dois da empresa Pimco, um dos principais compradores privados da dívida pública americana.

O presidente americano, Barack Obama, afirmou esta quarta-feira que quer trabalhar em conjunto com o Congresso para identificar “que tipo de cortes no orçamento podemos fazer que sejam inteligentes, hábeis e que não socavem nossa recuperação e estimulem o crescimento do emprego”.

A tarefa será árdua porque os dois partidos têm posições radicalmente opostas.

Mas para Obama, todo esforço deve apontar para o crescimento, para sair da crise econômica, estimulando a arrecadação. Para os republicanos, é preciso mirar nos gastos de um Estado obeso e ineficaz, e assim devolver a confiança ao setor privado.

Os desafios orçamentários que aguardam o novo Congresso são uma verdadeira dor de cabeça.

Em junho, o FMI calculava que, para impedir que a dívida alcançasse proporções incontroláveis, os Estados Unidos teriam que reduzir seu déficit entre 7,75% e 14,5% do PIB ao ano.

Os arquivos do FMI indicam que nenhum país conseguiu fazer isto e os economistas americanos concluíram que os Estados Unidos são insolventes.

Alguns analistas tentaram transmitir a mensagem. Foi o caso de David Stockman, diretor de orçamento do presidente Ronald Reagan entre 1981 e 1985.

“Avançamos graças à emissão, por parte do Tesouro, de 100 bilhões de dólares da dívida por mês, o que não terminará nem no ano que vem, nem no seguinte, enquanto o PIB só cresce 40 ou 50 bilhões por mês”, disse Stockman, durante entrevista à emissora CNBC, esta terça-feira.

“Mais cedo ou mais tarde, teremos que pagar as contas”, destacou.

Por enquanto, esta perspectiva parece longínqua, em vista das taxas de juros muito vantajosas com que o Tesouro americano toma empréstimos.

Mas para Stockman, a simples presença de um comprador poderoso como o Fed permite isso.

“É um mercado totalmente manipulado, artificial e vai explodir”, advertiu.

“Os 9 trilhões de dólares de dívida do Estado federal que circulam no mundo constituem completamente um mercado manipulado, em tratamento médico, pilotado por nosso banco central, o Fed, e todos os bancos centrais do mundo”, disse.

O Fed anunciou, esta quarta-feira, a tentativa de comprar 600 bilhões de dólares de bônus do Tesouro aos bancos, esperando que esta injeção de liquidez estimule o crescimento.

Com este montante, o banco central americano elevará o total da dívida do Tesouro para 1,438 trilhão de dólares no fim de junho, ou seja 10% do PIB, uma quantia colossal que não tem impacto direto sobre a dívida, mas que revela a má saúde da economia americana.

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