03/02/2023 - 14:40
Os Estados Unidos devem recuar de sua política de “pressão máxima” sobre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e estimular os governos latino-americanos de esquerda a formarem um “grupo de amigos” nas negociações entre Caracas e a oposição – dizem especialistas.
No relatório “Venezuela em 2023 e além: traçando um novo rumo”, assinado por 18 especialistas, o “think tank” americano Wilson Center aposta nas negociações em curso, entre as duas partes, no México.
“A Venezuela está mais madura para negociações sérias agora do que em qualquer outro momento”, mas “é pouco provável que produzam resultados rápidos” sobre “objetivos importantes como governança democrática efetiva e uma sólida recuperação econômica”, afirmou Abraham F. Lowenthal, fundador do programa de América Latina do Woodrow Wilson Center e autor do informe.
A política de “pressão máxima” de Washington contra o governo de Maduro “não teve sucesso ao longo do tempo” em seu objetivo de afastá-lo do poder.
Muitos outros países, da América, da Europa, ou da Ásia, envolveram-se na crise venezuelana, “cada um perseguindo seus próprios interesses”, e se solidarizaram com uma, ou outra, parte. Em sua maioria, apoiaram o governo interino liderado pelo líder da oposição Juan Guaidó desde 2019, que foi dissolvido há algumas semanas em meio a profundas fraturas dentro da oposição.
O diálogo no México foi retomado em novembro de 2022, após ficar suspenso por 15 meses, devido à extradição para os Estados Unidos do empresário Alex Saab. Este último é acusado de lavagem de dinheiro e de ser o testa de ferro de Maduro.
O chavismo exige o fim das sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos, que não reconhecem a reeleição de Maduro em 2018, enquanto a oposição pede uma data para a eleição presidencial de 2024.
– “Canais diretos” –
Até o momento, as partes concordaram em liberar US$ 3 bilhões em fundos bloqueados pelas sanções internacionais contra Maduro.
Por isso, avaliam os especialistas, é importante que a participação da comunidade internacional seja regida por “padrões mais normais de intercâmbio comercial, educacional, tecnológico e cultural”.
Isso requer uma resposta “nova e diferente” por parte dos Estados Unidos, que inclua todas as partes não violentas – algo que vem fazendo desde 2022 com várias viagens de funcionários de alto escalão do governo a Caracas e, sobretudo, que “coordene o alívio de suas sanções, condicionando-as ao avanço das negociações”.
Washington deve, acima de tudo, ser pragmática e dar protagonismo aos países latino-americanos governados pela esquerda, como Colômbia, Chile, ou Brasil, avaliam os especialistas.
Seus líderes – o colombiano Gustavo Petro, o chileno Gabriel Boric e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – podem ser “canais diretos” com o governo Maduro e ajudá-lo a “entender as vantagens da oposição política e das reformas por meio de instituições democráticas, ” insiste o relatório.
“Eles seriam, provavelmente, mais convincentes do que as advertências dos Estados Unidos”, reforça o texto.
– ‘Sanções ou nada’ –
Para o ex-embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, P. Michael McKinley, é “provável que Maduro siga o exemplo de governos autoritários de todo o mundo, que encontram novas formas de resistir à pressão internacional e se veja tentado a evitar fazer concessões sérias nas negociações”.
Por isso, acrescenta ele em outra análise publicada pelo Wilson Center, “a futura transformação democrática da Venezuela dependerá de convencê-lo do contrário”.
Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House, acredita que essa possa ser uma oportunidade para que governos da América Latina “deem um passo à frente (…) para trabalhar com os europeus em algum tipo de solução negociada”.
“Vemos, pela primeira vez, uma abertura e um sinal” da administração do presidente americano, Joe Biden, “para tentar aproveitar as sanções de uma maneira significativa para atingir metas” até agora não alcançadas, devido a uma estratégia de “sanções ou nada”, acrescentou, em um debate no Wilson Center.
Sabatini está convencido de que Washington “tem, na verdade, muitas cartas nas mãos para incentivar o cumprimento das negociações”.