13/12/2023 - 8:04
Os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem pela última vez em 2023 para definir suas respectivas taxas de juros na conhecida Super-Quarta. Enquanto o norte americano vem de trajetória de aperto monetário e manutenção do patamar, por aqui se registrou sucessão de quedas nas taxas após cerca de 2 anos acima dos 13% pontos percentuais. Segundo analistas, ambos países devem manter o curso e fechar 2023 conforme as expectativas – o Brasil dentro do teto da meta de inflação.
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A boa notícia é que, passados momentos de tensão entre Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e do presidente Lula (PT), a taxa Selic, atualmente em 12,25% a.a., termina o ano mais perto das expectativas do mercado (último Focus registrou projeção de 11,75% a.a.). O ciclo de queda começou em agosto, após sete reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária mantendo os juros brasileiros em amargos 13,75%.
“A queda da taxa Selic em 2023 é o início de um processo de ciclo de baixa, esse ciclo se deu com ajustes feitos na inflação, confirmação de determinadas expectativas que se tinha quanto a aprovação da reforma tributária, do arcabouço fiscal e de medidas arrecadatórias tributárias. Isso faz com que o comportamento geral macroeconômico levasse a esse início de ciclo”, explica Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec Rio.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro veio na mediana esperada, com alta de 0,28%; no ano, a inflação medida pelo índice acumula alta de 4,04% e, nos últimos 12 meses, de 4,68%, abaixo dos 4,82% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Na defesa de Campos Neto, uma inflação em queda garantiria, entre outros elementos – como regra fiscal, por exemplo – o ciclo de queda dos juros.
Para 2024 é possível esperar, pelo menos nos primeiros meses, a continuidade dessa política de redução das taxas gradualmente em 0,5% pontos percentuais a cada reunião do Copom, podendo baixar. Braga reforça o que os economistas não são unânimes nesse caso, mas a taxa tende a ficar entre 9,25% e 10%, com tendência para 10%.
“O que pode falsear isso e o que faz com que os especialistas acreditem que esse limite vai ficar mais perto de 10% ao ano é a possibilidade de um ano com gastos, expansão da despesa pública por conta das eleições municipais e próprias declarações do presidente da República no sentido de que a meta fiscal não precisa ser cumprida e que é importante gastar e fazer obras”, avalia o professor.
A véspera da Super-Quarta também trouxe o CPI dos EUA, que mede a inflação do país: dessa vez, a alta foi de 0,1% em novembro ante outubro; na comparação anual, houve alta de 3,1% em novembro. De janeiro pra cá, o Federal Reserve Bank (FED) mantém a taxa entre 4,75% – 5,5%, e a expectativa é permanecer nesse patamar. O Goldman Sachs projeta uma queda apenas para o terceiro trimestre do ano que vem.
“Acredito que o número do CPI não impacte na decisão do FED, que deve ser sim de manutenção dos juros nos patamares atuais. Apesar de um número dentro das expectativas e estagnação da inflação, o FED provavelmente irá comentar no comunicado que ainda não está próximo da meta de 2% e com isso segurar os juros mais altos por enquanto”, avalia Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed. O FED anuncia a decisão por volta das 15h (horário de Brasília); o Copom publica a nota após as 18h.
Renda fixa ainda na mira dos investidores
Do lado do mercado, o recuo dos juros em mais 0,5% no último Copom de 2023 não é surpresa, também é esperado. “Com isso, a renda fixa segue atrativa na minha visão. Ainda mais em um cenário de juros altos nos EUA, a renda fixa global tende a seguir atrativa há algum tempo. Sem falar que qualquer taxa maior que 10% ao ano não é de se jogar fora”, avalia Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Jorge segue recomendando os ativos em renda fixa, os mais requisitados e orientados de 2023. “Para o investidor pessoa física as incentivadas são as melhores escolhas: LCI / LCA ou mesmo debêntures incentivadas. A recomendação é escolher bem o emissor e não extrapolar o limite do Fundo Garantidor de Crédito, porque são produtos isentos e de baixo risco. Outro ponto é que eles geralmente pagam mais que outros investimentos como os CDBs e títulos públicos, por isso vejo mais vantagens”, orienta.
Apesar de estar em queda, a taxa Selic ainda segue em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo conforme explica Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. “Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os prêmios de risco e estes seguem em patamares altos. Isso segue atraindo recursos dos investidores”, diz.
Nesse cenário, os ativos prefixados, principalmente para o longo prazo, já que é dada como certa a redução da Selic, já estão precificando boa parte dessa queda, por isso para curto prazo os mais atrativos são os pós-fixados atrelados ao CDI.