22/10/2010 - 2:21
As Forças Armadas dos Estados Unidos “encobriram” torturas e a morte de centenas de civis em seus postos de controle militar no Iraque, revela nesta sexta-feira o site WikiLeaks, que teve acesso a milhares de relatórios sobre o dia a dia do conflito.
Os cerca de 400 mil documentos militares foram entregues na noite de hoje, em Londres, aos principais órgãos da imprensa internacional, incluindo a France Presse.
Os documentos, que podem ser consultados no endereço http://warlogs.wikileaks.org/. , constituem “a primeira visão da verdadeira história secreta da guerra, que o governo americano sempre escondeu”, destacou WikiLeaks.
As informações revelam o acobertamento por parte do Exército americano de torturas realizadas pelo Estado iraquiano e centenas de mortes de civis nos postos de controle militar dos EUA após a invasão americana de 2003, que derrubou Saddam Hussein.
“Apesar de um dos objetivos da guerra contra o Iraque ser o fechamento dos centros de tortura de Sadam Husein, os documentos do WikiLeaks mostram numerosos casos de tortura e de abuso contra prisioneiros por policiais e soldados iraquianos”, destacou a rede de televisão Al-Jazeera, que acessou as informações mais cedo.
“Os Estados Unidos sabiam da tortura autorizada pelo Estado iraquiano, mas ordenaram a suas tropas que não interviessem”.
Segundo os documentos, houve ao menos 1.300 casos de abusos e torturas contra presos iraquianos por parte de soldados e policiais iraquianos, afirma a Al-Jazeera.
Os documentos revelam ainda que “centenas de civis iraquianos morreram durante a guerra nos postos de controle do Exército americano”.
A emissora divulgou ainda que o vazamento dos documentos, datados de 1 de janeiro de 2004 a 31 de dezembro de 2009, mostra que os Estados Unidos realizaram uma contagem de mortos durante a guerra, apesar de terem desmentido o fato.
“Os documentos confidenciais obtidos pelo WikiLeaks revelam que as forças americanas possuíam um balanço sobre os mortos e feridos iraquianos, mesmo quando o negavam publicamente”, afirmou a rede de televisão do Qatar.
Segundo os documentos, ao menos 109 mil iraquianos, 63% civis, morreram no Iraque do início da invasão americana, em março de 2003, até o final do conflito, em 2009.
Os documentos “mostram que o conflito causou, no total, 285 mil vítimas, incluindo os 109 mil mortos”.
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, condenou o vazamento, que pode colocar os americanos em perigo.
“Tenho uma forte opinião de que devemos condenar nos termos mais claros o vazamento de qualquer informação por indivíduos ou organizações que coloquem as vidas dos americanos e de seus parceiros” em risco.
O WikiLeaks enfureceu o Pentágono em julho, ao publicar 77 mil documentos confidenciais dos Estados Unidos sobre a guerra no Afeganistão.
Segundo a Al-Jazeera, os documentos trazem novas informações sobre o assassinato de civis pela empresa de segurança privada americana Blackwater.
“Os arquivos secretos dos EUA revelam novos casos da Blackwater (uma companhia conhecida atualmente como XE) abrindo fogo contra civis, mas nenhuma acusação foi apresentada”.
Também foram encontrados nos documentos informações sobre o que chamavam de “envolvimento secreto” do Irã ao financiar milícias xiitas no Iraque.
“Os arquivos detalham a guerra secreta do Irã no Iraque e discutem o papel da Guarda Revolucionária do Irã agindo como um suposto fornecedor de armas para os insurgentes xiitas”.
A Al-Jazeera afirma ainda que os documentos incluem relatórios do Exército americano sobre o primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, “e acusações de sua associação com esquadrões da morte” no Iraque.
O Pentágono alertou que divulgar documentos militares secretos pode colocar em perigo tropas americanas e civis iraquianos.
“Ao relevar informações sensíveis como estas, o WikiLeaks continua colocando em risco as vidas de nossas tropas, de seus parceiros de coalizão e dos iraquianos e afegãos que trabalham conosco”, afirmou Geoff Morrell, porta-voz do Pentágono.
Segundo Morrell, os documentos são “essencialmente trechos de eventos, tanto trágicos como banais, e não contam a história toda”.
“Dito isso, o período abrangido por esses relatórios tem sido bem documentado nas notícias, nos livros e filmes, e a divulgação desses relatórios não traz uma nova compreensão do passado do Iraque”, acrescentou Morrell.
Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da Otan, também afirmou nesta sexta-feira que as vidas dos soldados e civis poderiam ser colocadas em perigo caso o WikiLeaks divulgasse os documentos confidenciais.
afp/ma/LR