Liderando o apoio internacional à Ucrânia, os Estados Unidos desempenharam um papel importante para ajudar Kiev a resistir militarmente frente a Moscou, rompendo o costume do ex-presidente republicano Donald Trump de agir sozinho.

Washington conseguiu formar uma coalizão internacional para apoiar a Ucrânia depois que a Rússia invadiu o território vizinho, em 24 de fevereiro de 2022, fornecendo dezenas de bilhões de dólares em ajuda militar, treinando tropas de Kiev e impondo sanções a Moscou.

“Sem o apoio dos Estados Unidos e, depois, o apoio europeu e mundial mais amplo, os ucranianos teriam desabado”, avalia Mark Cancian, analista do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington.

“O apoio é absolutamente vital. E continuar com esse apoio é absolutamente vital”, enfatiza.

A ajuda de dezenas de países foi coordenada por meio do grupo de contato da Ucrânia, que se reuniu pela primeira vez no final de abril do ano passado e é composto por cerca de 50 estados liderados por Washington.

As reuniões permitem que autoridades de alto escalão e comandantes militares ucranianos “atualizem os ministros” sobre a situação no campo de batalha para que a comunidade internacional possa identificar e prestar assistência, explicou para a AFP a subsecretária adjunta de Defesa Laura Cooper, responsável pela Rússia, Ucrânia e Eurásia.

– Ajuda de US$ 45 bilhões –

O secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, tem sido o motor do grupo, que teve reuniões quase mensais “para intensificar os esforços, coordenar a assistência e se concentrar em ganhar o combate de hoje e os que virão”, disse Cooper.

Os apoiadores da Ucrânia também treinam soldados ucranianos, um esforço coordenado em separado por meio da organização Grupo de Assistência de Segurança-Ucrânia. E, no mês passado, as forças americanas iniciaram um programa concentrado em manobras de maior escala, assim como a capacitação em sistemas de armas específicos.

Além disso, os Estados Unidos e outros países impuseram duras sanções à Rússia, tendo como alvo, entre outros, instituições financeiras, importações de tecnologia e exportações de energia.

Stephen Sestanovich, pesquisador do “think tank” americano Council on Foreign Relations (CFR), considera que os esforços dos Estados Unidos para reunir apoio internacional para a Ucrânia contrastam fortemente com o que se viu ao longo da presidência de Trump.

Muitos no governo Trump “não gostavam das instituições, dos processos e dos líderes transatlânticos. A tomada de decisões de Trump sempre foi caótica, mas forjar uma política comum para a Ucrânia com a UE e com o resto da Otan teria sido extremamente difícil”, acrescentou Sestanovich.

A ajuda à Ucrânia cobriu quase todos os tipos de equipamentos militares, de uniformes, armas pequenas e munições a sistemas de foguetes de artilharia e de defesas aéreas, passando por veículos blindados.

Kiev pressionou, ainda, para receber alguns elementos que seus aliados mantêm reservas em enviar, como os sistemas de defesa aérea Patriot e tanques pesados sofisticados, que haviam prometido, e outros, como mísseis de longo alcance e caças, ainda sem sucesso.

A ajuda militar a Kiev fornecida pelos Estados Unidos e por outros países chega a pelo menos US$ 45 bilhões desde que a Ucrânia foi invadida pela Rússia, acrescentou Cooper.

– Dificuldade de acordo –

Mais da metade desse valor ficou por conta dos Estados Unidos, que utilizou reservas militares, mas também novos pedidos à indústria de defesa para evitar o esgotamento de seus estoques.

Funcionários da Defesa garantem que a ajuda à Ucrânia não afeta a capacidade defensiva dos Estados Unidos. De acordo com Mark Cancian, isso tem, contudo, um impacto nos estoques e “será um problema crescente” — em particular para munições de artilharia.

Embora o apoio bipartidário à Ucrânia continue forte, alguns congressistas pediram que a ajuda seja limitada, enquanto outros pressionavam para que se intensifique.

“Chega de dinheiro para a Ucrânia”, tuitou o congressista republicano Matt Gaetz, enquanto um grupo bipartidário de senadores pediu que a ajuda seja expandida para incluir sistemas avançados ainda não fornecidos por Washington.

De acordo com Sestanovich, o suporte atual “pode se manter durante muito tempo. O que é mais difícil é descobrir como e em que velocidade”.

“Os governos ocidentais sabem que é preciso mais, mas têm dificuldade em chegar a um acordo sobre os detalhes”, acrescentou.